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Van Gogh e o tiro no peito

Vincent havia saído para pintar na tarde de 27 de julho, quando nessa hora costumava trabalhar na sala dos fundos do albergue. Deu um tiro de revólver contra o peito, caiu e depois se ergueu para retornar. Caiu três vezes no caminho de volta e notaram sua ausência, pois estava atrasado para o jantar. Sua atitude ao chegar pareceu estranha aos Ravoux: Vincent subiu diretamente ao seu quarto. Depois, como não descia para jantar, o sr. Ravoux subiu para vê-lo, encontro-o estendido no leito e perguntou o que tinha. Vincent virou-se bruscamente, abriu o casaco e mostrou a camisa ensanguentada. “É isso, quis me matar e falhei”, ele diz. (Van Gogh, David Haziot, Série Biografias L&PM Pocket).

Vincent Van Gogh não sairia mais da cama. Dois dias depois, morreria nos braços do irmão Theo, aos 37 anos e poucos meses.

VAN GOGH FOTO ALTA

A orelha de Van Gogh voltou à vida

Em dezembro de 1888, num surto de loucura, Vincent Van Gogh cortou uma de suas orelhas. Seu amigo e também pintor Paul Gauguin estava presente neste momento. Mas isso a maioria de nós já sabe. A novidade é que agora, mais de um século depois, a dita orelha ressuscitou. Na verdade, virou ela mesma uma obra de arte.

A informação foi divulgada nesta quarta-feira (4 de junho), pelo “The Centre for Art and Media” de Karlsruhe (oeste da Alemanha), que está expondo a réplica da orelha cortada de Van Gogh feita, entre outras coisas, com células da cartilagem de um tetraneto de Théo, irmão do célebre pintor.

A obra leva a assinatura de Diemut Strebe, artista que trabalha principalmente com matérias vivas. “A orelha foi criada com tecidos de cartilagem e tem a mesma forma que a de Van Gogh” declarou Dominika Szope, porta voz do Centro alemão.

A orelha renascida de Van Gogh ficará exposta em Karlsruhe até 6 de Julho e, em 2015, irá para Nova Iorque.

A orelha de Van Gogh feita a partir da cartilagem de um tetraneto de The Van Gogh.

A orelha de Van Gogh feita a partir da cartilagem de um tetraneto de The Van Gogh.

A orelha de Van Gogh é um dos grandes ícones da cultura moderna e até Allen Gisnberg lhe dedicou um poema chamado “Morte à orelha de Van Gogh!”. No filme “Lust for Life” (Sede de Viver), de 1956, Kirk Douglas encena a angustiante remoção da orelha. Este gesto artístico de auto-mutilação, aliás, tornou-se um clichê do comportamento criativo extremo.

Em seu Auto-Retrato com a orelha enfaixada, pintado em janeiro de 1889, Van Gogh contempla a si mesmo e vira o rosto em direção a nós para mostrar o curativo. Seus olhos são cristalinos e sua carne tem a aparência de uma escultura talhada em madeira medieval.

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No segundo semestre de 2014, a L&PM Editores vai lançar um grande livro que reunirá Cartas a Théo (edição ampliada e anotada);  Biografia de Vincent Van Gogh por sua cunhada (de Jo van Gogh-Bonger, esposa de Théo) e As cartas enviadas a Émile Bernard (prefaciadas pelo sobrinhoVincent Willen van Gogh). Aguardem!

As últimas palavras de Van Gogh

Van Gogh pintou o "Retrato do Dr. Gachet" um mês antes de morrer

Era madrugada do dia 29 de julho de 1890 e Théo estava deitado ao lado do irmão no leito do hospital. Vincent fumava seu cachimbo tranquilamente e parecia bem, apesar de fraco. Dois dias antes, tinha disparado um tiro contra o próprio peito, que desviou e se alojou na virilha. O Dr. Gachet foi chamado às pressas, mas não conseguiu retirar a bala.

Assim que soube do “incidente”, Théo veio ao encontro do irmão, mas ele estava decidido a morrer. Por volta da 1h30 do dia 29 de julho, Vincent Van Gogh murmura suas últimas palavras: “Quero ir embora”, e morre.

Van Gogh guardava consigo uma carta, a última das Cartas a Théo:

Meu caro irmão,

Obrigado por sua gentil carta e pela nota de cinquenta francos que ela continha. Já que as coisas vão bem, o que é o principal, por que insistiria eu em coisas de menor importância? Por Deus! Provavelmente se passará muito tempo antes que se possa conversar de negócios com a cabeça mais descansada.

Os outros pintores, independente do que pensem, instintivamente mantêm-se à distância das discussões sobre o comércio atual.

Pois é, realmente só podemos falar através de nossos quadros. Contudo, meu caro irmão, existe isto que eu sempre lhe disse e novamente voltarei a dizer com toda a gravidade resultante dos esforços de pensamento assiduamente orientado a tentar fazer o bem tanto quanto possível – volto a dizer-lhe novamente que sempre o considerarei como alguém que é mais que um simples mercador de Corots, que por meu intermédio participa da própria produção de certas telas, que mesmo na derrocada conserva sua calma.

Pois assim é, e isto é tudo, ou pelo menos o principal que eu tenho a lhe dizer num momento de crise relativa. Num momento em que as coisas estão muito tensas entre marchands de quadros de artistas mortos e de artistas vivos.

Pois bem, em meu próprio trabalho arrisco a vida e nele minha razão arruinou-se em parte – bom -, mas pelo quanto eu saiba você não está entre os mercadores de homens, e você pode tomar partido, eu acho, agindo realmente com humanidade, mas, o que é que você quer?

A história de Van Gogh está contada nas centenas de Cartas a Théo e também no célebre Antes & Depois, memórias de Paul Gauguin onde o pintor narra em detalhes o célebre episódio em que Van Gogh corta sua própria orelha. Ambos os livros publicados na Coleção L&PM POCKET.