Depois de palestrar sobre futebol na Bienal de Brasília e ler trechos de Os filhos dos dias em um ginásio lotado no Rio de Janeiro, Eduardo Galeano encerrou suas aparições públicas no Brasil ao receber a Medalha Tiradentes e o Título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro. A cerimônia de entrega aconteceu na quarta-feira, 16 de abril, e em seu discurso Galeano falou sobre Tiradentes e dedicou a medalha ao amigo Oscar Niemeyer:
“Sobre Tiradentes
Ao final do século 18, acreditava-se que as minas do Brasil durariam tanto quanto o mundo, mas cada vez havia menos ouro e menos diamantes e cada vez eram mais pesados os tributos que era preciso pagar à rainha de Portugal e sua corte de parasitas.
Para romper com a Europa, que “nos chupa como esponja”, conspirou um grupo de mineiros e fazendeiros, frades e contrabandistas de longa experiência. A rebelião se propunha converter a colônia em pátria. O Brasil queria ser república independente.
E a rebelião foi crescendo.
Antes que soasse o primeiro tiro de mosquete, falaram os delatores. Os delatores marcaram para morrer os seis que foram condenados, enforcados, decapitados e esquartejados.
O único que não delatou ninguém, e foi por todos delatado, foi o primeiro a adentrar o patíbulo na hora do amanhecer.
O alferes Tiradentes foi o primeiro a ser castigado por querer que os brasileiros fossem brasileiros, em toda a infinita dimensão da palavra liberdade.
* * *
Eu quero dedicar esta medalha que hoje alegra meu peito à memória de meu muito querido amigo Oscar Niemeyer.
Ele foi, e continua sendo, além de toda morte, o mais entusiasta protagonista dessa louca aventura que hoje chamamos Brasil.
Que assim seja, que assim continue sendo.”