Por Carolina Marquis
Quando a organização do Fronteiras do Pensamento, evento nacional com base em Porto Alegre, convidou Mario Vargas Llosa para ser um dos palestrantes, nem imaginava que, no lugar de um grande escritor, traria à cidade um Prêmio Nobel! Pois foi assim que, ontem, praticamente uma semana depois da premiação, lá estava ele… entre nós.
“Estava iniciando minha vida como escritor quando comecei a ler Faulkner. Neste momento pensei que eu não tivesse talento algum”. A frase proferida por Llosa foi recebida entre risos e aplausos por uma plateia lotada que se reuniu para assistir ao homem que escreveu Conversas na Catedral.
Do povo que momentos antes estava diante da porta do Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lutando incansavelmente pelos ingressos remanescentes, sentia-se uma vibração única. Estavam todos ali para ver, ouvir e enobrecer-se com as esperadas palavras de Llosa. Houve uma menina peruana que quase chorou tentando convencer outra a lhe presentear com seu ingresso. E também jornalistas e fotógrafos que se espremiam para conseguir a melhor fotografia. Antes do Nobel aparecer, o balançar de pernas nas cadeiras denunciava o nervosismo e a ansiedade que a espera proporcionava. Quando o escritor entrou em cena, a apoteose se fez. A reitoria da universidade transformou-se em um estádio de futebol, onde todos torciam para o mesmo time: o das letras e o de Llosa. Não houve uma pessoa que conseguisse ficar sentado.
Ao final da palestra, permeada por risos, sorrisos e encanto, o escritor abriu a cena para os autógrafos. As cem senhas que foram disponibilizadas no primeiro momento não foram suficientes para agradar à manada de torcedores que se reunia diante da sala que abrigava o mestre. Na fila estavam todos os tipos: senhoras da alta sociedade devidamente maquiadas e arrumadas para ver o ídolo, jovens que acabavam de descobrir o prazer das letras, pessoas que, inconsoláveis, não conseguiam se conformar com a ideia de não terem em seus livros a prova assinada de que viram Llosa pessoalmente. “Acho que vamos ter que seguir ele até o hotel para conseguir um ingresso”, planejavam duas jovens que em suas mãos carregavam um par de exemplares de Travessuras da menina má.