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O cenário de “Mate-me por favor” no cinema

Estreia em outubro o filme CBGB, do diretor Randall Miller, que conta a história do lendário clube novaiorquino de “Country, Bluegrass e Blues” que revelou artistas e bandas como Talking Heads, Television, Patti Smith Group, Iggy Pop, The Police, Velvet Underground e outros que podem ser considerados os criadores do punk rock. Assista ao trailer:

Toda a história do CBGB está contada por seus próprios personagens no livro Mate-me por favor, já publicado em 2 volumes na Coleção L&PM Pocket e acaba de ganhar uma nova edição em um só volume e formato convencional:

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Num trecho do livro, Terry Ork, Richard Hell e Richard Lloyd, respectivamente o empresário, o vocalista e o guitarrista da banda Television contam como tudo começou no CBGB’s:

Terry Ork: cheguei para Patti [Smith] e disse “Hey, escuta,  acho que a gente tem uma coisa rolando aqui. Vamos experimentar você e o Television nuns finais de semana. Vamos botar pra quebrar.”

Então eles tocaram nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo no CBGB’s e foi um estouro. Ficou maior e maior a cada fim de semana. Durou seis semanas. Depois disto, cheguei pra Hilly [o dono do CBGB] e disse: “Você não pode superar esses números com seu country e seu bluebrass, rapaz!”

E considerei este o começo da cena [punk].

Richard Hell: A cena definitivamente começou a crescer como uma bola de neve. O CBGB’s era sem dúvida o lugar onde as coisas estavam acontecendo, desde a primeira vez que a gente tocou lá. Na real, éramos únicos. Não havia no mundo nenhuma outra banda de rock & roll com cabelo curto. Não havia nenhuma outra banda de rock & roll com rupas rasgadas. Todo mundo ainda estava usando purpurina e roupas de mulher. Éramos uns chinelões, arruaceiros, sem-teto, tocando uma música poderosa pra caramba, apaixonada, agressiva e também lírica.

Bob Gruen: A primeira vez que vi Richard Hell, ele entrou no CBGB’s usando uma camiseta com um alvo e as palavras Please Kill Me (Mate-me por favor). Aquilo era uma das coisas mais chocantes que eu já tinha visto. As pessoas tinham um monte de ideias extravagantes naquele tempo, mas andar pelas ruas de Nova York com um alvo no peito, com um convite para ser morto – aquilo foi um verdadeiro marco.

Richard Hell: Nem lembro de usar a camiseta Please Kill Me, embora lembre de ter forçado Richard Lloyd a usá-la. Eu era um tremendo de um covarde.

Richard Lloyd: Richard Hell tinha desenhado uma camiseta para ele que dizia Please Kill Me, mas não usava. Entrei numas “Vou usar.” (…) Aqueles fãs me lançaram um olhar verdadeiramente psicótico – olharam o mais fundo possível nos meus olhos e disseram: “É sério?” Daí disseram: “Se é isso que você quer, a gente ficará contente em obedecer, por que somos os maiores fãs!” Ficaram me olhando com aquele olhar alucinado, e pensei: “Não vou usar esta camiseta de novo.”

Lou Reed setentão

Lou Reed, que foi um dos fundadores do Velvet Underground, que influenciou Iggy Pop e David Bowie, que já foi casado com um transexual, que inspirou a cena pós-punk inglesa… quem diria, completa hoje 70 anos. Nascido no Brooklyn novaiorquino em 2 de março de 1942, ele cresceu lendo Edgar Allan Poe, Raymond Chandler e James Joyce e acabou tornando-se uma espécie de personagem do submundo do rock. Atualmente, anda bem mais comportado. Mas quem quer lembrar um pouco dos “áureos tempos” de Lou Reed pode procurá-lo nos livros Mate-me por favor (vol. 1 e 2) ou no recém relançado Diários de Andy Warhol (também em dois volumes). Nos anos 60 e 70, Andy e Lou constumavam ser vistos juntos. E muitas são as fotos que comprovam isso.

Lou e Andy fotografados por Stephen Shore em 1965

Andy e Lou em momento "soninho" - Foto de Nat Finkelstein

Andy Warhol e o "Velvet Underground"

Velvet Underground X Fundação Andy Warhol

Em 1967, Andy Warhol desenhou uma banana que foi usada no primeiro álbum da lendária banda Velvet Underground: “The Velvet Underground & Nico”. Agora, o Velvet – na verdade os fundadores da banda, Lou Reed e John Cale – está processando a Fundação Andy Warhol por uso indevido desta ilustração. Segundo eles, a instituição violou a marca registrada da famosa capa do “disco da banana”.

Reed e Cale dizem que a fundação infringiu o design ao licenciá-lo para terceiros, no caso para capas de iPhone e iPad. De acordo com a queixa registrada ontem, 11 de janeiro, em uma corte federal em Manhattan, o desenho da banana se converteu em um símbolo, um verdadeiro ícone do Velvet Underground e a ação cita que Warhol recebeu US$ 3 mil pelo seu desenho.

Na época do lançamento do disco, a banda e o artista pop mantinham uma colaboração criativa, como bem mostra a recém lançada biografia Andy Warhol da Coleção L&PM Pocket, livro, aliás, que cita várias vezes a relação de Warhol com o Velvet Underground:

“O Velvet tornou-se parte integrante da Factory, dando-lhe uma nova identidade, mais rock´n´roll e underground, ou mais exatamente: mais punk, avant la lettre. A música do Velvet não é parecida com a dos Rolling Stones, mais unificadora, mais popular, menos inquietante. A imprensa, contudo, considerava-a bárbara, uma aberração contrária à natureza. O próprio Warhol admitia que a banda causava um efeito doloroso, assustador e, no entanto, belo. Mas Warhol considerava essas experiências sublimes”

22. A história do fracasso de Andy Warhol… na L&PM

Por Ivan Pinheiro Machado*

Era o final de 1987 e  ainda ecoava no mundo Pop as lamentações pela morte de Andy Warhol. Um suposto erro médico, numa banal cirurgia de vesícula em fevereiro daquele ano, tinha tirado a vida do inventor da Pop Art. Europa e Estados Unidos preparavam retrospectivas de sua obra gráfica e cinematográfica. Tudo ao som de Lou Read e seu “Velvet Underground”, descobertas de Warhol.

Foi neste clima profundamente andywarhoniano que, na Feira de Frankfurt de 1987, 8 meses depois de sua morte, um agente literário ofereceu a mim e ao Paulo Lima os famosos “Diários de Andy Warhol”, um enorme calhamaço recheado de mexericos e fofocas novaiorquinas do uper jet set com aproximadamente 800 páginas que sairia no início de 1988 no Estados Unidos. É claro que nos interessamos. Nós e outros 15 editores brasileiros. Como havia uma grande procura, o agente fez um leilão via fax (não havia e-mail na pré-história) e, depois de vários lances, fizemos uma oferta de U$ 20 mil dólares de adiantamento de direitos autorais. Lá no período paleolítico, no final dos anos 80, um dólar era um dólar de verdade! Não esta merreca de hoje em dia. Um dólar chegava a ser o que hoje equivale a três reais no câmbio oficial e uns 4 reais no famoso “black”, ou mercado negro. Tudo isto em meio a uma inflação de dois dígitos ao mês. Foi assim que recebemos a “feliz” notícia que todos os outros 14 pretendentes tinham se afastado do leilão e, portanto, o livro era nosso.

Confesso que quando baixou a poeira, não chegamos a festejar muito. No começo da operação, quando vencemos o leilão, aqueles 20 mil dólares nos tiraram apenas algumas horas de sono. No final, com o livro nas livrarias no começo do ano de 1989, passaram a nos tirar noites inteiras de sono… Foi assim:

Contratamos o músico e escritor Celso Loureiro Chaves, recém chegado de uma longa estadia nos Estados Unidos, para fazer a tradução. Foram 1.000 laudas. Revisamos em tempo recorde e, finalmente, um ano e pouco depois de assinarmos o contrato, colocamos um belo livro de 800 páginas em corpo 10, formato 16 x 23 cm nas livrarias de todo o Brasil. O preço seria o equivalente hoje a uns 100 reais. Imprimimos 5.000 exemplares para que a tiragem amortizasse o preço do calhamaço. Não precisou mais do que uma semana para que nossas esperanças se esvaissem. Nenhuma reposição. Só devoluções daqueles livreiros que apostaram – como nós – e fizeram pilhas nas suas livrarias. As pilhas foram muito observadas, mas ficaram intactas. Apesar da imprensa ter dado enorme destaque. O grande investimento em direitos, tradução (eram 1.000 laudas!), papel e gráfica tinha ido pelo ralo. Foi o livro mais festejado e não-comprado da história de mais de três décadas de L&PM. E nosso primeiro contato com aquilo que chama-se fracasso editorial. Dez anos depois, decidimos acabar com as enormes, gigantescas, pilhas que se acumulavam no nosso depósito. Aí então Andy Warhol foi um verdadeiro bestseller. Vendemos os 3 mil exemplares que sobraram por R$ 10,00 na Feira do Livro de Porto Alegre de 1997. Foi o saldo mais disputado da história de mais de meio século de Feira.

Sobre o livro, vale dizer que ele foi organizado por Pat Hackett, secretária e amiga de AW, que editou e escreveu o diário baseado nos telefonemas e no convívio diário com ele. Quem espera tiradas geniais e pistas para entender o mega universo Pop, fica profundamente decepcionado. Os diários empilham ti-ti-tis de celebridades, maldades, fofocas, tricôs e não revelam mais do que um personagem fútil, deslumbrado com o mundo dos ricos e das celebridades. Em bom português, pode-se dizer que, apesar das suas 800 páginas, os diários de Andy Warhol possuem a profundidade de uma poça d’ água. E não fazem jus ao seu gênio.

A fábrica do pop

Sua primeira grande criação foi a Factory (estúdio multi-disciplinar, onde Warhol pintava, desenhava e fazia seus célebres filmes underground. Depois criou a revista Interview que tornou-se uma referência no jornalismo cultural mundial. Célebre pela “invenção” da serigrafia como forma de arte, ou da concepção da obra de arte como um múltiplo, ele influenciou gerações. Em suas mãos, o banal se transformou em objeto artístico. Fotos criaram um clima inconfundível com seus alto contrastes e cores fortes. Cada retrato recebia dezenas de versões, sendo colorizado a partir de uma matriz que era reproduzida em várias telas. AW criou também o culto à celebridade e inventou a máxima bilhões de vezes repetida de que “todos teriam seus 15 minutos de fama”. Em 1968, foi alvejado três vezes por uma ex-funcionária da Factory, doublê de dramaturga e lésbica que se prostituía para ganhar a vida. Conseguiu sobreviver. Morreu dezenove anos depois. Foi enterrado em Pittsburgh, cidade onde nasceu, descendente de uma família de judeus húngaros, e onde está hoje o Museu Andy Warhol.

Embora os diários, como livro, não façam jus a dimensão do artista, AW é o último grande esteta num mundo que banalizou-se plasticamente. Ele transformou a arte num objeto de consumo e foi o monstro sagrado das artes visuais. Tímido, adquiriu, post-mortem, a celebridade e a importância do artista que fez a última grande revolução na arte moderna. Andy Warhol também está na série Biografias L&PM.

O mito Marilyn imortalizado pelas cores do pai da pop arte

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