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Walden, o jogo

Em julho de 1845, desgostoso com o crescente comercialismo e industrialismo da sociedade americana, Henry David Thoreau deixou Concord, Massachusetts, sua cidade natal, para instalar-se à beira do Lago Walden. Essa experiência deu origem ao seu livro mais famoso. Publicado primeiramente em 1854 com o título Walden ou A vida nos bosques, é o relato de dois anos, dois meses e dois dias em que o autor viveu apartado da sociedade dos homens, suprindo as próprias necessidades, estudando, contemplando a natureza e conhecendo-se a si mesmo.

Pois eis que agora a obra mais famosa de Thoreau virou um game. Calma, nada a ver com aqueles jogos eletrônicos em que você tem que correr, pular, caçar e essas coisas enervantes que alguns. Como escreveu o colunista da Folha de S. Paulo, João Pereira Coutinho, em uma matéria publicada no Caderno Ilustrada da Folha, “Um jogo é competitivo, Walden é contemplativo. Thoreau iria gostar.”

Coutinho contou que baixou o jogo com o pé atrás, mas foi surpreendido:

“Quando soube da bizarria, ri alto: como transformar as meditações solitárias de Thoreau em videogame? (…) A desconfiança foi recuando quando soube que o jogo era patrocinado pela National Endowment for the Humanities, instituição que tudo tem feito para ressuscitar, com a dignidade inerente, a obra completa do autor. Comprei o jogo e iniciei a experiência” porque somos convidados a ser Thoreau, a ver o mundo pelos seus olhos, a tocar nos objetos com as suas mãos. (…) Então aceitei ser Thoreau. Caminhei pelo bosque. Fui recolhendo objetos, contemplando as árvores e reconhecendo a cabana incompleta que esperava por mim.”

WALDEN, A GAME custa U$ 18,45 (R$ 58). O download pode ser feito em www.waldengame.com e ele roda em PC e Macintosh.

Para sentir este clima, que tal dar uma olhada no trailer:

A L&PM publica Walden com apresentação de Eduardo Bueno e tradução de Denise Bottmann.

Um selo para comemorar os 200 anos do nascimento de Thoreau

Henry David Thoreau nasceu em 12 de julho de 1817. Hoje, exatamente 200 anos depois, o mundo comemora seu nascimento e suas ideias. Autor, entre outros, de WaldenA desobediência civil, ambos publicados pela L&PM Editores.

Para comemorar esse bicentenário, os EUA lançaram um selo comemorativo de Thoreau. Nada mais civil, aliás, do que um selo postal (pelo menos não é uma nota de dinheiro, vá lá…)

Inauguração do selo

Inauguração do selo

A natureza em livro

No Dia Mundial do Meio Ambiente, que tal um pouco da natureza semeada em letras? Leia abaixo, pequenos trechos de cinco livros que fazem parte da Coleção L&PM Pocket:

MANUAL DE ECOLOGIA – DO JARDIM AO PODER, de José Lutzenberger: No terreno desnudado ou na floresta degradada pelo fogo, as enxurradas destroem em minutos ou horas o que a Natureza levou milhares de anos para fazer. Uma polegada de solo fértil pode levar até quinhentos anos para formar-se.

O CHAMADO DA FLORESTA, de Jack London: O silêncio espectral do inverno dera lugar ao grande murmúrio primaveril da vida que despertava. Este murmúrio surgia de toda a terra, pleno da alegria de viver. Provinha dos seres que viviam e se moviam novamente…

O LIVRO DA SELVA, de Rudyard Kipling: Naquele outono deixou a ilha logo que pôde, com um objetivo em mente. Queria encontrar a Vaca-Marinha, se é que existia tal criatura, e depois queria encontrar uma ilha tranquila, com praias seguras, onde as focas pudessem ficar a salvo dos homens.

O LIVRO DAS PERGUNTAS, de Pablo Neruda: Se todos os rios são doces de onde tira sal o mar? Como sabem as estações que devem mudar de camisa? Por que tão lentas no inverno e tão palpitantes depois? E como sabem as raízes que devem subir para a luz?

WALDEN – A VIDA NOS BOSQUES, de Thoreau: Os homens se tornaram o instrumento de seus instrumentos. O homem independente que colhia os frutos quando estava com fome virou agricultor; aquele que se abrigava sob uma árvore agora tem uma casa para cuidar.

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O Dia Internacional da Vida Selvagem

Foi no final de 2013, durante uma Assembleia-geral da ONU, foi decidido que a data de 3 de março seria o “Dia Internacional da Vida Selvagem”. O objetivo é celebrar a fauna e flora do planeta, mas também alertar para os perigos do tráfico de espécies selvagens.

O dia escolhido faz referência à data de criação da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção) que aconteceu em 1973.

Pra marcar a data, sugerimos a leitura dos seguintes livros: O Livro da Selva, de Rudyard Kipling; Walden, de Thoreau e O chamado da floresta, de Jack London.

DiaVidaSelvagem

Dez dicas de Denise Bottmann para quem deseja ser tradutor

SaraivaConteúdo – 19/08/2014 – Por Zaqueu Fogaça

A tradutora Denise Bottmann

A tradutora Denise Bottmann

São incontáveis as obras estrangeiras publicadas no Brasil todos os anos em língua portuguesa. Isso só é possível graças ao esforço de um profissional que às vezes escapa aos olhos apressados da maioria dos leitores: o tradutor, aquele sujeito que se debruça por meses, e até mesmo anos, no texto original para entregar a obra em português, pronta para ser lida.

O ofício do tradutor requer muita paciência para decifrar o labiríntico processo de composição de uma obra, como explica a tradutora Denise Bottmann: “O grande desafio é entender de fato o texto. Entender uma frase não significa entender as palavras e o sentido visível em determinada construção. Significa entender as articulações daquela frase dentro da construção geral da obra, princípios estruturais e compositivos utilizados pelo autor. Traduzir é basicamente decifrar o texto original, seguindo uma ou mais chaves de leitura, e reconstituir essa decifração num outro texto e em outra língua”.

Graduada em História e mestra em Teoria da História, a curitibana lecionou Filosofia na Unicamp; posteriormente, em 1985, direcionou seus esforços ao campo da tradução, trabalho que executa até hoje como tradutora de inglês, francês e italiano.

Entre os autores que verteu para o português figuram nomes como Hannah Arendt, Marguerite Duras, Henry David Thoreau e Virginia Woolf. Desta última, Denise traduziu o livro Mrs. Dalloway (L&PM), trabalho agraciado, em 2013, com o Prêmio Paulo Rónai da Biblioteca Nacional.

Mrs. Dalloway e Walden, dois títulos da L&PM traduzidos por Denise Bottmann

Mrs. Dalloway e Walden, dois títulos da L&PM traduzidos por Denise Bottmann

Em face das possibilidades e complexidades que cada obra apresenta, faz-se necessário definir uma linha tradutória. “Perante tal complexidade, o tradutor opta por uma determinada abordagem, um determinado ‘partido tradutório’. Assim, o principal objetivo de uma tradução em relação ao texto original é manter a coerência do partido adotado, checando constantemente sua validade em relação ao original”, diz a tradutora, que também é autora do blog Não Gosto de Plágio, no qual expõe ao público os plágios de traduções no país.

A pedido do SaraivaConteúdo, Denise Bottmann elencou dez componentes que considera importantes para quem ambiciona se aventurar pelo campo da tradução. Confira a relação abaixo.

1. DOMÍNIO DO PORTUGUÊS
Ter um domínio muito bom do português. E não se trata apenas de conhecer a língua. Trata-se de ter uma familiaridade lógica com estruturas linguísticas. Se a pessoa não tem pleno domínio linguístico de sua língua materna, dificilmente conseguirá ter uma percepção das estruturas lógicas de outra língua.

2. DOMÍNIO DA OUTRA LÍNGUA
Ter um domínio pelo menos bom da outra língua. O mais importante é o domínio das estruturas linguísticas; nesse sentido, eventuais e inevitáveis lacunas vocabulares podem ser preenchidas com o recurso a dicionários.

3. CONHECIMENTO DO ASSUNTO
Ter um domínio pelo menos razoável da área a que pertence a obra. Não é preciso ser um especialista no assunto, mas é indispensável um mínimo de conhecimentos gerais que permitam ao tradutor trafegar com relativa familiaridade pelos temas tratados.

4. MATERIAL DE APOIO
Dispor de ampla variedade de materiais de consulta e pesquisa: dicionários, enciclopédias, glossários, estudos sobre aquela área, outros livros relacionados ao tema. Com a Internet, tudo isso fica muito mais fácil.

5. CONTEXTO DA OBRA
Ter noção do quadro literário, teórico ou científico em que se insere a obra. Para quem traduz literatura, é indispensável ter noções de recursos estilísticos e literários em geral. Em humanidades em geral, é indispensável ter noção da linhagem a que se filia a obra e dos debates em torno do tema.

6. CONTEXTO HISTÓRICO
Ter noção do quadro histórico e cultural em que se insere a obra. É indispensável que se tenha noção da inserção histórica da obra e de suas relações com a época, seja uma obra de literatura ou de humanidades em geral.

7. AUTODISCIPLINA E CONCENTRAÇÃO
Com o instrumental dado nos seis itens anteriores, o tradutor põe mãos à obra. É um tipo de atividade intelectual que demanda muita concentração, por horas a fio, ao longo de semanas e meses. Requer bastante esforço continuado e disciplina para atender satisfatoriamente às exigências do texto.

8. DECISÃO E RESPONSABILIDADE
Capacidade de tomar decisões, adotar soluções conscientes e poder responder por elas. A responsabilidade do tradutor consiste em ser capaz de explicar a si e a outrem as razões de suas escolhas. Como traduzir envolve escolhas constantes, qualquer eventual alegação de que “É assim que está no original” simplesmente não faria o menor sentido.

9. RELEITURA E REVISÃO
Proceder a constantes releituras e revisões do texto em tradução.Traduzir é uma atividade extremamente dinâmica, e nada garante a priori a qualidade do resultado. Tropeços, deslizes, inconsistências, vaguezas nos afligem constantemente e muitas vezes escapam à nossa atenção. Daí a necessidade de reler e retrabalhar várias vezes o texto traduzido.

10. CALMA E PONTUALIDADE
Tradutores profissionais costumam dispor de prazos estabelecidos pelas editoras. Proficiência linguística, materiais de apoio, boa bagagem geral, dedicação e responsabilidade de pouco adiantam se não respeitarmos prazos e não cumprirmos o combinado com a editora. Mas o mais importante, acima de tudo, é manter a calma. Keep calm and translate on!

Clique aqui e conheça todos os títulos do catálogo L&PM com tradução de Denise Bottmann.

A natureza de nossos escritores

Thoreau cantou a vida nos bosques em Walden, Ibsen escreveu um libelo contra os crimes ecológicos em Um inimigo do povo, Kipling compreendeu os mistérios da vida selvagem e O livro da selva, Kerouac foi vigia de incêndios em um parque e contou sua experiência em Anjos da desolação. Muitos outros seguiram este caminho, adentrando florestas, plantando flores e árvores em nossa imaginação, declarando o amor pelos elementos da natureza e descrevendo seus contornos em livros. A todos estes escritores, a nossa homenagem sempre, mas principalmente hoje, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente e Dia Nacional da Ecologia.

iPad com cara de livro

Os livros digitais já são mais do que realidade e têm adeptos pelo mundo todo. Os e-readers estão se popularizando e chegando ao mercado com preços cada vez mais acessíveis e o número de títulos disponíveis em formato digital cresce rapidamente. Só a L&PM já tem mais de 300 títulos!

Mas se você é do tipo que ainda não consegue se imaginar lendo um livro digital num iPad, por exemplo, os criativos da loja Out of print encontraram uma solução que pode ajudar a enganar os sentidos de quem não quer trair o velho companheiro de papel.  E quem sabe também convencer os mais ortodoxos. São as ” iPad Covers”, estampadas com as capas de grandes clássicos da literatura mundial. Além de cults, elas são lindas!

Capa da edição original de "O grande Gatsby" de 1925

"Walden", de Thoreau, também virou capa para iPad

Já fez as contas de quantos livros de Conan Doyle caberiam neste iPad?

Neste iPad com a capa de "Orgulho e preconceito" você pode guardar também "Persuasão" e "Abadia de Northanger"

As edições de centenas de páginas do livro "O morro dos ventos uivantes" já podem ser substituídas pela leveza de um pocket ou de um iPad

Millôr, Kerouac e Thoreau no Fórum da Liberdade

Por Paula Taitelbaum

Foi o encontro de dois personagens: Peninha e Lobão. Também conhecidos como Eduardo Bueno e… Lobão (alguém por acaso lembra de cabeça como é o nome da “fera”?). Pois bem, a dupla esteve reunida ontem, 11 de abril, para participar do debate de abertura do 24º Fórum da Liberdade que lotou o Salão de Eventos da PUC em Porto Alegre. Transmitido ao vivo pela internet, e com participação ativa dos tuiteiros de plantão, o bate-papo tinha como tema “Liberdade individual: a arte de construir a própria história”. Depois da explanação inicial de Lobão, Eduardo Bueno começou seu colóquio lendo um texto: “Eduardo Bueno nasceu. Todo o seu aprendizado, desde a mais remota infância. Só aos 13 anos de idade, partindo de onde estava. E também mais tarde, já homem formado. No jornalismo, especialmente. Sempre, porém, recusou-se, ou como se diz por aí…”. O texto continuava fluindo nessa linha até terminar com uma a plateia fazendo cara de ponto de interrogação. Nessa hora, Eduardo explicou  que o texto tinha sido inspirado em outro, exatamente igual, que Millôr Fernandes escreveu sobre ele mesmo e que está no recém lançado livro A entrevista. “Isso também explica o meu método de trabalho, pediram para Millôr Fernandes uma biografia sucinta e ele apresentou isso. Falando assim praticamente não se entende nada, mas tá tudo ali. E na internet é assim…” falou ele. E continuou: “Não há dúvida que nesse universo extraordinário que a internet nos abriu, o conhecimento está ali, embora exista, na rede, mais lixo eletrônico do que lixo no espaço sideral. Cabe a você fazer a escolha e ver o que dali se aproveita…”

Mais tarde, quando o assunto já era outro, foi a hora de Eduardo citar Jack Kerouac: “Embora, de certa forma, eu tenha fama de moderninho, na verdade, eu sempre tive um descompasso com o próprio tempo. As pessoas falam assim: ‘pô, ele traduziu On the Road… E é verdade, eu traduzi On the Road em 1984, o livro tinha saído em 1959…” e seguiu falando que conheceu a obra de Kerouac em Buenos Aires, país que publicou On the Road também em 1959, numa tradução argentina e não espanhola. “No Brasil, saiu em 1984 e nunca tinha sido publicado. Havia uma tradução lusitana chamada ‘Pela estrada fora’… Mas ao abrir o livro, a primeira frase que li foi ‘Fui-me de boleia ao Orégão em um carro descapotável” disse Eduardo arrancando risos do pessoal (mesmo que a maioria que estava lá provavelmente nunca tenha lido On the Road).

Eduardo – que literalmente estava vestido de literatura –, continuou sua explanação pela estrada das referências até chegar em mais um de seus escritores preferidos: “Eu vim com uma camiseta temática, Walden, de Thoreau, que diz em uma das primeiras frases do livro que ‘O melhor governo é o que menos governa…'” Antes que pudesse continuar, foi interrompido por novos e esfuziantes aplausos. Mas conseguiu finalizar dizendo “E o melhor de todos é o que não governa nunca. Mas precisamos estar preparados para ele” . Fã confesso de Thoreau, Eduardo é o autor da introdução de Walden da Coleção L&PM POCKET.

No final, Eduardo terminou falando um pouco sobre a história do Islã e de como o ocidente é responsável pela série de conflitos da atualidade. Foi nessa hora que pude ouvir várias pessoas dizendo: “Que aula! Qual será o livro dele que eu posso ler pra saber mais sobre isso?”. Infelizmente, Eduardo não tem nenhum livro falando sobre o islamismo. Mas finalizo dizendo que, para os que realmente querem saber mais sobre o assunto, podemos oferecer Islã, da Série Encyclopaedia L&PM.

Lobão e Peninha (Eduardo Bueno) com "Walden"

E o Lobão? No quesito literatura falou apenas sobre sua recém lançada autobiografia. Como não ainda não li, não tenho autoridade para falar sobre o assunto.

Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.

Lendo Walden

Por Denise Bottmann*

Dizem que Thoreau fez três coisas quando morava em Walden: escreveu Uma semana nos rios Concord e Merrimack, foi preso por não ter pagado o imposto do município e escreveu muitas notas que vieram a fazer parte de sua obra mais famosa, Walden.

Já comentei que a leitura de Walden às vezes pode ser opaca, embora todas as pistas estejam lá. É o caso de uma passagem belíssima, onde se mesclam ironias, coloquialismos, metáforas, repetições, jogos de palavras e outras figuras de estilo, misturam-se planos temporais, fazem-se digressões de caráter geral e apenas insinua-se o sentido:

Não faz muito tempo, um índio andarilho foi vender cestos na casa de um famoso advogado de minha vizinhança. “Querem comprar cestos?”, perguntou ele. “Não, não queremos”, foi a resposta. “O quê!”, exclamou o índio ao sair pelo portão, “querem nos matar de fome?” Tendo visto seus industriosos vizinhos brancos tão bem de vida – que bastava o advogado tecer argumentos e, por algum passe de mágica, logo se seguiam a riqueza e a posição –, ele falou consigo mesmo: vou montar um negócio; vou tecer cestos; é uma coisa que sei fazer. Pensando que, feitos os cestos, estava feita sua parte, agora caberia ao homem branco comprá-los. Ele não tinha descoberto que precisava fazer com que valesse a pena, para o outro, comprá-los, ou pelo menos fazê-lo pensar que valia, ou fazer alguma outra coisa que, para ele, valesse a pena comprar. Eu também tinha tecido uma espécie de cesto de tessitura delicada, mas não tinha feito com que valesse a pena, para ninguém, comprá-los. Mas nem por isso, em meu caso, deixei de pensar que valia a pena tecê-los e, em vez de estudar como fazer com que valesse a pena para os outros comprar meus cestos, preferi estudar como evitar a necessidade de vendê-los. A vida que os homens louvam e consideram bem-sucedida é apenas um tipo de vida. Por que havemos de exagerar só um tipo de vida em detrimento dos demais?

Vendo que meus concidadãos não pareciam dispostos a me oferecer nenhuma sala no tribunal de justiça ou nenhum curato ou sinecura em qualquer outro lugar, mas que eu teria de me arranjar sozinho, passei a me dedicar em caráter mais exclusivo do que nunca às matas, onde eu era mais conhecido. Decidi montar logo meu negócio, em vez de esperar até conseguir o capital habitual, usando os magros recursos que eu já tinha. Meu objetivo ao ir para o lago Walden não era viver barato nem viver caro, e sim dar andamento a alguns negócios privados com o mínimo possível de obstáculos; mais do que triste, parecia-me tolo ter de adiá-los somente por falta de um pouco de siso, um pouco de tino empresarial e comercial.

A que “negócios privados” Thoreau queria dar andamento ao se mudar para Walden? E que “cesto de tessitura delicada” seria aquele para o qual não conseguiu compradores?

Por muitos anos Thoreau alimentou a vontade de ir morar sozinho na mata, e vários elementos se compuseram para que decidisse ir para Walden. A oportunidade propícia surgiu quando Emerson comprou uma propriedade no local. O poeta Ellery Channing, conhecendo os anseios do amigo Thoreau, sugeriu que se instalasse lá. Thoreau combinou com Emerson, e assim foi.

Mas uma das ideias que por anos vinham ocupando seu espírito era fazer uma homenagem à memória ao irmão, falecido em idade prematura em 1842, e escrever um livro narrando a excursão que ambos tinham feito em 1839, percorrendo os rios Concord e Merrimack. Morando em Concord, não tinha o vagar e a liberdade mental de que precisava para escrever a obra. Estes eram os “negócios privados” (ou assuntos particulares) a que queria dar andamento “com o mínimo de obstáculos”.

Tendo efetivamente escrito A Week on the Concord and Merrimack Rivers durante sua permanência em Walden, o livro foi publicado em 1849. Nos anos em que refletiu sobre a experiência em Walden e reelaborou essas reflexões ao longo de cinco a sete versões diferentes de Walden (que viria a ser publicado em 1854), Thoreau pôde conhecer a fortuna do tributo que fizera ao irmão: um fracasso de vendas – duzentos exemplares vendidos em quatro anos… Diga-se de passagem que apenas em décadas recentes tem-se reconhecido a finíssima lavra de A Week: até então, era tida como obra canhestra e desconjuntada.

Assim se entende qual era o cesto de delicada tessitura que ninguém se interessara em comprar… Notem-se os movimentos temporais: o parágrafo inicial é uma reflexão posterior ao relato apresentado no parágrafo seguinte; dentro do inicial, há também uma sutil circunvolução: o episódio do índio funciona como uma espécie de justificativa a posteriori de sua decisão em adotar uma forma de vida que lhe permitisse tecer seus textos/cestos em paz, sem a premência de vendê-los. Vivendo em Walden, pôde construir uma narrativa com trama de singular e complexo lirismo, que demandaria mais de cem anos para vir a ser devidamente reavaliada.

De passagem, entende-se também o sentido, de outra forma obscuro, do adjetivo triste: “mais do que triste, seria tolo” adiar seus planos de construir o memorial ao irmão, se fosse apenas por questões de fundo pragmático.

Outra característica de Walden, também ilustrada nos trechos acima: as referências, em sua imensa maioria, são concretas. O episódio do índio é autêntico, e Thoreau chegou a registrar em seu diário o nome do advogado (Samuel Hoar, figura muito conhecida na cidade).

(Uma boa fonte de consulta é a bela edição anotada de Walden com introdução e notas de Walter Harding, Houghton Mifflin, 1995. Também interessante é The Thoreau Reader, site com suas obras anotadas. Ilustração: verso de página da primeira edição de A Week, em exemplar pessoal de Thoreau. Citação dos trechos: Walden, tradução minha, L&PM, 2010, pp. 31-32. Para o original, ver aqui.)

*Denise Bottmann é tradutora de Walden, publicado pela L&PM. Semanalmente Denise escreve no seu blog Não gosto de plágio