Dublin, Irlanda, 1847 – † Londres, Inglaterra, 1912
De família modesta, Stoker frequentou o Trinity College em sua cidade natal. Embora atraído pelo jornalismo e pela poesia, especialmente a de Walt Whitman, com quem chegou a manter correspondência, estudou ciências exatas. Funcionário e crítico teatral, esteve na Irlanda em 1876 como secretário e representante do ator inglês Sir Henry Irving, com quem dirigiu o Lyceum Theatre de Londres. Juntamente com outros literatos da época, como Stevenson, Yeats, Conan Doyle, Rider Haggard e Arthur Machen, participou de uma sociedade esotérica e ocultista, cuja temática está presente em sua obra. Sua fama internacional deve-se, sobretudo, ao romance Drácula, que narra a história do conde Drácula, da Transilvânia, um vampiro obcecado pelo amor de sua esposa, morta e reencarnada. Esse enredo tem servido, ao longo do tempo, como inspiração para filmes e romances.
OBRA PRINCIPAL: Drácula, 1897
BRAM STOKER por Rafael Bán Jacobsen
Bram Stoker é um desses autores que garantiu sua imortalidade no panorama da literatura ocidental com apenas uma obra. Apesar de ter escrito e publicado vários romances, contos e até mesmo uma coletânea de histórias de fadas para crianças, seu nome é hoje conhecido como o autor de Drácula. Indagar a respeito da importância de Stoker para as letras é buscar compreender as razões do fascínio exercido por Drácula no imaginário coletivo. Graças, fundamentalmente, às muitas adaptações cinematográficas, todos conhecem bem a história de Jonathan e Mina Harker, Van Helsing e demais membros do grupo que enfrenta e derrota o velho vampiro transilvano obcecado pela busca da reencarnação de sua amada; porém, até mesmo pelo desgaste desse tão repetido enredo, torna-se pouco aparente a riqueza subjacente a ele.
Chama a atenção a grande originalidade da obra, obtida a partir de elementos já conhecidos, a começar pelo seu mote principal, o vampirismo, que, tendo origem na mitologia da Suméria e da Mesopotâmia, já há muito fazia parte do folclore europeu, personificado mesmo em figuras históricas como a condessa Erzsébet Báthory, que, conta-se, banhavase em sangue de mulheres jovens para conservar sua beleza, e o príncipe romeno Vlad Tepes, conhecido pela crueldade de seus atos. Além disso, a decisão de contar a história por meio do testemunho de múltiplos registros – diários, cartas, notas, recortes de jornais, gravações – partiu, provavelmente, da leitura dos livros de Wilkie Collins (The Moonstone, The Woman in White). Essa estrutura narrativa, essa alternância de pontos de vista das diferentes personagens têm a propriedade de conservar intacto o mistério de Drácula, dado que este é sempre aproximado do leitor de forma indireta.
Negando-se uma voz narrativa ao conde, é reforçado textualmente seu papel como o outro, o estrangeiro, a criatura das trevas. Mesmo o estilo do romance, apelando para o sombrio, o sobrenatural e o etéreo, está vinculado à chamada literatura gótica, vertente bastante comum na Inglaterra do século XIX, da qual também fazem parte livros como Frankenstein, de Mary Shelley, e os trabalhos de Edgar Allan Poe. A própria figura de Drácula é construída sobre os dois alicerces básicos de toda literatura: eros e tânatos (amor/sexo e morte em grego). Esses elementos são fundamentais para o entendimento de nossa civilização, e a figura do vampiro surge como a síntese deles, permitindo o pleno desfrute do binômio sangue-sexo e respondendo, ainda, ao anseio da imortalidade. Sombra especular de nossos egos, com todos os seus medos e desejos, a figura do vampiro propicia a conjunção das múltiplas facetas de uma personalidade pluripotente em um ser uno e eterno, não mais dividido e fragmentado, não mais perecível ao tempo. Por trabalhar diretamente com pulsões tão básicas e universais, a saga vitoriana de Bram Stoker, narrada com fluidez e suspense constantes, além de agradabilíssima leitura, torna-se uma obra atemporal e de inegável importância.
Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.