Para Georges Simenon, o criador do comissário Maigret, o maior crime que se podia cometer era incomodá-lo enquanto estava trabalhando. “Não perturbe”, dizia uma plaquinha na porta de seu escritório. Outra condição sine qua non para começar a escrever um romance incluía pelo menos quatro dúzias de lápis recém apontados, um bloco novo de folhas amareladas, um envelope com nomes, idades e endereços de seus personagens e uma lista com possíveis itinerários de trem, além da máquina de escrever a postos e devidamente higienizada, as cortinas fechadas e café em boa quantidade. Cada novela levava de 8 a 11 dias para ser escrita, no ritmo de um capítulo por manhã – Simenon dava “expediente” em seu escritório das 6h30 às 9h.
Ao todo, ele escreveu cerca de 250 mil páginas, que ligadas ponta com ponta chegariam aos 6km de extensão. Duvida? Então faça a conta, por cima: 75 histórias com o comissário Maigret, 115 novelas, 117 “roman durs” (ou “hard novels”), sem esquecer dos 249 roteiros. Tamanho currículo lhe rendeu o posto de 4º autor de língua francesa mais traduzido no mundo!
Onde nós queremos chegar com tantos números? Era só pra dizer que todos estes objetos que fizeram parte do ritual literário do grande Georges Simenon estão em exposição no Historial de la Vendée, na França, até o dia 26 de fevereiro de 2012. São 200 objetos pessoais do escritor: além dos 6km de originais manuscritos e/ou datilografados e de todo o “arsenal” envolvido em sua produção literária, é possível ver de pertinho também o inseparável chapéu de feltro e o moedor de tabaco. Já pensou que emoção?
Se você estiver pela França, não perca esta! Visite a exposição, faça umas fotos e compartilhe aqui para nos deixar morrendo de inveja 😉
6 km? Uau! Só perde para o Ryoke Inoue!
Post muito interessante. É incrível a produção literária de autores como Simenon e Agatha Christie. De onde vinha tanta criatividade? Está certo que as estórias possuem tramas simples e são relativamente curtas, mas produzir como eles produziram não é para qualquer um.
Como é que esse ‘hard novels’ foi parar aí no meio do texto? Se aquilo que Simenon chamava de ‘romans durs’ precisava de tradução para ser compreendido, ela deveria ser para o idioma do artigo, não é?
Oi Flávio! É que em português não existe uma expressão usual e, em inglês, sim. Abraço