Londres, Inglaterra, 1660 – † Londres, Inglaterra, 1731
Descendente de holandeses, estudou em uma escola para protestantes ingleses não-anglicanos. Mais tarde, alistou-se no exército do duque de Monmouth, que pretendia depor o rei Jaime II. Derrotado o duque, Defoe passou a servir-se da palavra escrita como arma de combate. Exerceu cargos no governo, viajou a Portugal e Espanha e dedicou-se a escrever e publicar ensaios políticos. A instabilidade dos governantes determinou mudanças na situação pessoal e profissional do escritor. Sempre contrário ao anglicanismo, sofreu reveses e benesses, alternando cargos lucrativos, humilhações públicas e prisão. Sua obra ficcional trata questões importantes à época, como a bondade natural do homem corrompida pela civilização, tema central de Robinson Crusoé, depois retomado em Moll Flanders. Essas duas obras continuam suscitando o interesse dos leitores e da crítica, servindo de argumento para o cinema norte-americano.
OBRAS PRINCIPAIS: Robinson Crusoé, 1719-1720; Moll Flanders, 1722; Um diário do ano da peste, 1722
DANIEL DEFOE por Maria Helena Martins
Não é preciso ser conhecedor de literatura para saber que o mais importante na leitura de um romance está no fato de ele prender nossa atenção, fazer com que se queira ler mais. O autor tem de criar suspense, despertar e manter nossa curiosidade, romper expectativas, deixando-nos presos à sua história. Qualquer contador de causos sabe disso intuitivamente. Imagine-se o que pode fazer quem também domine a palavra escrita, conheça meandros da alma humana, seus ditos e interditos, feitos e fantasias. Quem entre na pele de aventureiros e heróis, decentes e devassos… Pois Defoe literalmente tira de letra com facilidade camaleônica. Ora envolve o leitor com suas personagens e peripécias, ora escapa com elas por desvãos inusitados, deixando o leitor surpreso e desorientado, como quem é perseguido por trilhas ou ruelas estranhas.
Seu livro mais conhecido é Robinson Crusoé, porém Moll Flanders é emblemático de uma sociedade plena de falsidades, que encobre perversões e precariedades. Tratava da Inglaterra do século XVIII, mas percebia nela traços que persistem em nossos dias, em nossa realidade. Já no prefácio, ao antecipar seu relato da “vida amorosa” de sua protagonista, Defoe revela que toma “todo o cuidado” para sua história não provocar “idéias impudicas nem obscenas”, com “pormenores mais corruptos de sua vida”. Contudo, isso atiça a curiosidade para o oposto do que estaria propondo e, decididamente, fisga o leitor para a leitura do texto. Segundo ele:
(…) para contar uma vida de pecado e arrependimento é absolutamente necessário contar a parte pecaminosa com toda a verdade possível, para realçar e embelezar a parte do arrependimento, que é, sem dúvida, a melhor e a mais radiosa, se for contada com igual entusiasmo e realidade.
Insinua-se não ser possível relatar a parte do arrependimento com tanta realidade, tanto esplendor e tanta beleza como a pecaminosa. Se há alguma verdade nessa insinuação, seja-me permitido dizer que tal se verifica por não haver o mesmo gosto e satisfação na leitura e a diferença existir, deveras, mais no deleite e prazer do leitor que no valor real do assunto.
Mas, como este livro se destina, sobretudo, àqueles que o saibam ler e tirar dele o proveito que se recomenda ao longo da história, espera-se que tais leitores apreciem mais a pertinência que a narrativa, a moral que a ficção, o objetivo do escritor que a biografia da pessoa biografada.
Então, nada mais a recomendar do que uma boa leitura!
* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. A partir de hoje, todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.
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