Por Ivan Pinheiro Machado*
Você sabe quanto custa um erro?
Há aqueles que erram na vida e são punidos pela lei. Há os que erram por amor. Há os que simplesmente erram e vão em frente, há os que erram e capitulam, se submetem ao emaranhado de equívocos em que se enredaram. Há erros e erros. Uns maiores, outros menores. E há um custo para os nossos erros. Perdemos amores, perdemos empregos, amigos, lealdades e até a liberdade. Sempre há uma consequência, um castigo, uma penalidade.
Pois uma editora geralmente é refém da possibilidade de um erro.
Depois de tantos anos eu sempre digo que aprender a ser editor custa muito caro. Por exemplo: um belo dia, foram impressos 3.000 exemplares de um romance de Honoré de Balzac (1789-1850). Os livros chegaram na editora e a aquipe examinava o exemplar quando, de repente, alguém gritou desesperado: nããããããão, 1932 nããããão!!!
O Coronel Chabert saiu em 1832 e a contracapa do livro, em lugar nobilíssimo, exibia um rutilante 1932 como data de lançamento da primeira edição. Cem anos de equívoco. Recolhe-se o livro, devolve-se para a gráfica, corrige-se o erro e imprime-se de novo. Encaixa-se o prejuízo. Este é o caminho. Não tem outro jeito.
Um editora com 37 anos de vida como a nossa já passou por um longo e caríssimo aprendizado. Erramos muito no passado e de tanto errar, aprendemos. O lugar comum, “é com erros que se aprende”, é uma verdade absoluta quando se fala em editar livros.
Hoje, os recursos eletrônicos geram menos erros de digitação, o famoso “pastel” como se dizia antigamente. Se você digitar “atrazo” em vez de atraso, o Windows grita e você corrige correndo. Mas mesmo assim, com todo o aparato tecnológico, hoje, um livro passa no mínimo por cinco revisões, podendo chegar a seis ou sete. Há a revisão de originais, de tradução, a revisão de paginação, há a revisão da revisão, enfim. Há um enorme trabalho por trás de um livro. Tudo para que ele chegue quase perfeito nas mãos do leitor.
Neste tempo todo editamos mais de 3 mil livros. E foram dezenas de edições perdidas. Livros que foram “reciclados” por conterem doenças incuráveis, que são os erros que saltam aos olhos, erros de português, de estrutura, de páginas que faltam, por erro nosso, ou simplesmente por uma fatalidade da informática. No envio de um arquivo à gráfica por internet, a pag 71 e 72, por exemplo, somem no éter virtual. E para o desespero do editor, o erro só aparece quando um leitor liga e diz: “quero meu dinheiro de volta! Faltam duas páginas no meu livro”. Aí então se recolhe o livro (para “reciclar”), corrige-se, manda-se os arquivos para a gráfica, revisa-se as provas pré-impressão e imprime-se de novo. E depois deste erro assustador, revisa-se a primeira rodagem da máquina. Enfim, revisa-se, revisa-se, revisa-se e mesmo assim, vez que outra, acaba se descobrindo um errinho…
* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.
Belo texto. Algumas vezes, parece que tudo funciona de uma forma tão perfeita e harmonica, que nós leitores, nos esquecemos de todo trabalho humano por trás de cada obra literária.