Diretor e ator, reconhecido por sua rebeldia, Dennis Hopper morreu no último sábado, aos 74 anos, em decorrência de câncer de próstata. Dirigiu oito filmes, dos quais se destacam o marco da contracultura Sem destino (Easy Rider), de 1969, e Colors – as cores da violência, de 1988, estrelado por Sean Penn e Robert Duvall. Contracenou com James Dean, de quem foi grande amigo, nos clássicos Juventude transviada (1955), de Nicholas Ray, e Assim caminha a humanidade (1956), de George Stevens. Dennis Hopper também atuou nos emblemáticos Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola, e Veludo azul (1986), dirigido por David Lynch.
Assista a um trecho do programa “Fishing With John”, onde o ator conversa com o músico John Lurie, e leia aqui o texto de Mario Bortolotto para a Folha (somente para assinantes).
“Eu confesso que fiquei abalado com a morte de Dennis Hopper. Às vezes eu estava vendo um filme aparentemente recente em que ele aparecia na TV e clicava naquele comando que mostra a sinopse do filme para ver em que ano rodou. No último que vi – nem lembro o nome – achei que ele estava OK. O Mario Bortolotto, em seu texto na Folha e S. Paulo, conclui que “nossos heróis estão morrendo…”. É verdade, os heróis também morrem. Aquela turma toda anda morrendo. Os caras que nos fascinam desde a nossa juventude. Eu lembro perfeitamente, nos meus vinte anos, do domingo ensolarado em que foi anunciada a morte de Picasso. Ele tinha 93 anos. Mas eu fiquei chocado. Que sacanagem é esta? Ele não era mágico? Ele não era super-homem? Ele não pintava três quadros por dia? Ele não era Picasso? Como Picasso podia morrer?
Este é o grande enigma da existência. Nossos heróis morrem. O velho e maravilhoso maluco Dennis Hopper morreu. Todo mundo morre. Até o Picasso morre.” (Ivan Pinheiro Machado)
A imprensa, com sua filosofia “reducionista” que dá verbetes e manchetes rápidas sobre determinados temas, tratou a morte de Dennis Hopper como a de “mais um hollywoodyano” que abusou do álcool e das drogas, desprezando o caráter inovador e inquietante da sua obra. Hopper inovou ao lado da equipe (sobretudo Peter Fonda) com quem desenvolveu e produziu o clássico das estradas EASY RIDER , trazendo ao protagonismos dois delinquentes motoqueiros, que efetuam uma venda de cocaína e partem para o Mardi Grass, carnaval de New Orleans, dinamitando o “sonho americano”, não com a mesma genialidade, mas completamente inserido na nova geração de cineastas como Martin Scorcese, Francis Coppola, Alan j. Pakula, Sidney Lumet, Robert Altman, dentre outros. Participava de filmes de amigos, prestigiando o trabalho destes, sempre que podia. Foi um grande incentivador das artes plásticas, fosse com exposições das próprias obras ou produzindo outros artistas, o que inclusive lhe valeu um convite para o filme BASQUIAT, em que interpreta um profissional do meio da produção artística, ligado a Andy Warhol.
Uma figura excêntrica que deixará saudade.