Um curioso duelo intrigou o mundo literário esta semana. De um lado, o escritor Charles Shields, que acaba de lançar um livro de 528 páginas sobre a vida de Kurt Vonnegut, o autor de Café da manhã dos campeões e Matadouro 5. De outro, Mark Vonnegut, filho de Kurt, que acusa Shields de ter feito um retrato equivocado se seu pai no livro And so it goes.
Segundo o biógrafo, Kurt Vonnegut era um velho amargo e solitário, que estava sempre irritado e tinha tendências depressivas, além de tratar mal suas esposas. O levantamento realizado por Shields sugere ainda que o autor do libelo pacifista Matadouro 5 era proprietário de parte das ações da empresa Dow Chemical, fabricante do napalm, usado em bombas incendiárias e lança-chamas no início da Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã.
Além de contraditória (se compararmos com a mensagem que Kurt Vonnegut nos deixou por meio de sua obra), a biografia tropeça em outro problema: segundo Mark, o biógrafo conviveu pouquíssimo tempo com seu pai e as informações que ele apurou sobre a infância e a família do escritor também não são bem assim. Shields conta que Kurt Vonnegut foi uma criança triste, com problemas afetivos, e que seu pai era distante. Mark desmente.
Ele admite que Kurt Vonnegut “não era um homem ou um pai perfeito e teve dois casamentos fracassados”, mas o retrato que Shields pintou com estas “tintas” não mostra a realidade.