Aterrorizado
pelo som da minha própria voz
e pela sonoridade dos pássaros
cantarolando em fios ardentes
numa quietude de domingo vi a mim mesmo
trucidando inúmeros pecadores e perus
cães barulhentos com pontudas tetas mortas
e cavaleiros negros em armaduras
com rótulos Brooks
e calças com cadeados Yale
Sim
e com pênis erectus como lança
perfurei velhas damas
rejuvenescendo-as
num espasmo de minha espantosa espada
retrocedendo-as à virgindade
capuzes e cabeças
oh sim
adormecida hipocrisia encapuçadaprosseguimos conquistando tudo
mas enquanto isso
o tempo padrão real segue em frente
e novos bebês engarrafados com dentes reais
devoram nosso fantástico
futuro fictício.(De Um parque de diversões na cabeça, Lawrence Ferlinghetti, poema traduzido por Eduardo Bueno)
Eu tenho esse livro, lí-lo numa sentada. Lembro que naquela noite sonhei com Ferlingheti, bem velhinho, sorriso sem dentes, simpático. Eu o visitava na City Lights. A sensação foi de ter achado o Santo Graal. Até hoje sinto falta do Ferlingheti…