Por Ivan Pinheiro Machado*
Nosso primeiro encontro foi em 1976, na Feira do Livro de Frankfurt. Naquele ano, o tema era “Literatura latino-norteamericana” e eu, então um jovem de 24 anos, fui apresentado pelo meu amigo Fernando Gasparian, dono da editora Paz e Terra, a um promissor escritor uruguaio editado por ele. Seu nome: Eduardo Galeano.
Galeano, que na época tinha 36 anos, já era festejado com seu “Las venas abiertas de América Latina”. Eu, filho de comunista que era, já tinha lido o livro em espanhol, pois a obra era proibida no Brasil. Fiquei fascinado com sua figura e continuamos mantendo contato.
Quinze anos depois, recebi um telefonema de sua agente no Brasil. Queria uma nova editora brasileira para publicar O livro dos abraços, lançado em espanhol em 1989 e que ainda não tinha edição por aqui. Entrei em contato com Eric Nepomuceno, brilhante jornalista que já traduzia Galeano no Brasil, e que aceitou de imediato fazer mais esta tradução. E assim, em 1991, publicamos nosso primeiro Galeano.
Ou seja: fechamos 2011 comemorando 20 anos de convívio com Eduardo Galeano e 14 livros publicados incluindo As veias abertas da América Latina. Eduardo Galeano é uma grande figura humana. Ele consegue transmitir para sua vida pessoal a ternura e a poesia que são a matéria-prima do qual é feita a sua obra. Generoso, postou-se sempre ao lado dos fracos e dos oprimidos, tornando-se um símbolo de resistência às injustiças e às espoliações cometidas contra a América Latina. Não é preciso dizer que foi perseguido pelas ditaduras uruguaias e argentinas naqueles tempos tétricos de operação Condor nos anos 70 e 80. Solidário, esteve conosco nos piores momentos, quando a crise econômica de meados dos anos 90 quase abateu a L&PM. Alertado de que “sua editora estava mal”, Galeano respondeu: “Não faz mal, eu vou ficar até o fim”. Ele me contou isso somente 10 anos depois, quando tudo já estava resolvido e já tínhamos a maior e mais prestigiada coleção de livros de bolso do Brasil.
Há cerca de três semanas, recebi um email seu, singelo, onde ele contava do novo livro, Los hijos de los dias, que mostra como cada um dos dias do ano é capaz de fazer nascer uma nova história. Neste seu email, que trazia o livro em anexo, ele dizia: “si te parece publicable, manos a la obra.” Emocionado, li numa noite as 366 histórias (contando um ano bissexto) que compõem este livro belíssimo. No outro dia, liguei para o Eric Nepomuceno e… mãos à obra. O novo Galeano sai em meados de 2012.
*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo nono post da Série “Era uma vez… uma editora“.
Galante o Galeano, não?
Ainda não o li e sei que ele faz muita falta na minha formação. Começarei com o “Veias…”, que é acredito ser um livro indispensável para todo Latino. Espero começar antes do Obama eheh!