A falta de livros nas mãos dos chineses é uma triste herança dos tempos em que a literatura literalmente virou cinza. Só depois de muito procurar, encontrei uma rua em Xangai com quatro livrarias, uma atrás da outra. Duas delas estavam praticamente vazias, uma tinha meia dúzia de gente e apenas a “Art Bookstore” exibia compradores mais animados. Nessas livrarias, não encontrei nenhum livro de ficção escrito em mandarim. O que parece significar que, para ler um romance na China, é preciso saber ler em inglês – e garanto que a maioria não sabe. Até as publicações contando a história de Xangai, com belíssimas fotos, apresentavam-se em caracteres ocidentais.
Chamou a atenção que, em um dos estabelecimentos, a editora inglesa Penguin tinha uma prateleira só dela. Mas o que mais me agradou mesmo foi a livraria de arte. Projetada com esmero e dividida por prateleiras curvilíneas, ela é um espaçoso paraíso para os amantes do desenhos e da pintura – em especial da arte chinesa. Há não apenas livros, mas muitas revistas e quadrinhos. No fundo da loja, um espaço que vende tintas, pincéis e outros artigos do ramo. Tudo muito bacana, mas que faz nascer a dúvida: será que os clientes que ali se encontravam se interessam por literatura ou apenas por artes plásticas?
Para saber mais sobre a Revolução Cultural chinesa, que queimou todos os livros, prendeu professores e fechou universidades, leia China: uma nova história.
Leia os posts anteriores:
– A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias
– Enquanto isso, na China milenar, a Expo continua a mil
– A Expo é um parque de diversões na cabeça
– A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
– Xangai é um barato
Paula,
será que tem alguma edição da Penguin, em mandarin, de algum dos livros de Jane Austen?
Será, será!
Uma das capas me pareceu muito com as edições de Jane Austen.
Paula
Um blog inserido em um site de uma editora com o rosto do Mao (vide Trocadilho) por Warhol no cabeçalho e falando ma(o)l (outro) da ditadura chinesa por ter quimado livros!
Particularmente, se fosse chinês, acharia uma afronta colocar a foto de um sujeito como Mao como referência de um país de cultura milenar.
Ou denunciamos o que foi feito contra o povo chinês e relegamos Mao ao ostracismo, ou relativizamos seus crimes e o transformamos em símbolo de cultura pop. Mas as duas coisas ao mesmo tempo causa uma confusão danada.
Sinceramente.
Miguel López.
Que bobagem. Você vai na Fuzhoulu, não encontra muita gente na livraria e conclui que o chinês não lê? Vá na Xinhua Bookstore sábado a tarde para ver o movimento. Ficção chinesa? Milhares de títulos, um enorme mercado.