Com o lançamento da nova “Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é o argentino José Luis Salinas (1908 – 1985).
Salinas é não só um dos maiores nomes dos quadrinhos argentinos, mas um mestre mundial nessa arte. Foi o primeiro artista platense da especialidade a ter seus trabalhos publicados em muitas partes do mundo, firmando ainda mais o seu conceito quando passou a colaborar para o King Features Syndicate. Mas vamos mais devagar. É relevante contar toda a história desse buenairense do Bairro de Flores, autodidata completo, que costumava afirmar: “O desenho não se aprende, apenas aperfeiçoamos aquilo que já nasce com a gente”. Começou sua carreira como ilustrador e publicitário. Embora estivesse esporadicamente nas páginas pioneiras da revista de Ramon Columba, El Tony, foi em 1936 que ele realmente marcou sua presença nos quadrinhos. Sua primeira história em série, “Hérnan El Corsário” (publicada por Patozuzú, de Dante Quinterno), marcou o início da moderna tradição de aventuras nas historietas argentinas. Desde o primeiro quadrinho, essa narrativa de oitenta páginas saiu redonda, perfeita, uma beleza em detalhes, anatomia e expressividade dramática. A América do Sul já tinha o seu Harold Foster, que provou talento ainda maior ao adaptar, também em série, para a revista El Hogar, clássicos da literatura internacional. Para essas adaptações, Salinas não utilizou os balloons, tornando as imagens mais limpas, criando verdadeiras obras de arte em cada página. E foram várias as versões que desenhou: Miguel Strogoff, O Capitão Tormenta, A Costa de Marfim, Ella, a feiticeira, As minas do Rei Salomão, Pimpinela Escarlate, Os três mosqueteiros, O último dos moicanos e O livro da Jangal. Em 1949, a convite do King Features Syndicate, que queria transpor para os quadrinhos um personagem criado originalmente por O. Henry – Cisco Kid –, ele viajou aos Estados Unidos. Fechou contrato com uma curiosa cláusula: continuaria morando no seu país e remeteria o trabalho para os Estados Unidos, a partir dos roteiros que lhe mandava Rod Reed. Assim, entre 1950 e 1968, Salinas desenhou Cisco Kid (imagem) para a meca dos comics norte-americanos, sentado no seu estúdio em Buenos Aires. Clássico dos westerns, Cisco Kid constantemente ganha reedições no mundo inteiro (aqui no Brasil através da revista Eureka e em álbum na coleção “Quadrinhos L&PM”). Em 1973, depois de um período trabalhando em ilustração e criação de livros sobre a História dos trajes e uniformes no século XIX, Salinas voltou ao King. Com roteiros do seu compatriota Alfredo Grassi, desenhou, entre 1973/75, Dick the Gunner (Dico, o artilheiro, no Brasil, em revista própria editada pela RGE). A história, quando Salinas a deixou, ainda teve continuidade, algum tempo, por Lucho Olivera (veja em O). Terminam por aqui as experiências de Salinas nos quadrinhos. Ganhador de todos os prêmios possíveis na Argentina, ele também foi galardoado, em 1976, em Lucca, com o troféu Yellow Kid, o máximo em distinção mundial. Deixou principalmente uma obra a ser admirada através dos anos pelo invariável traço limpo, sereno, expressivo em cada quadrinho, em cada detalhe que ele nunca cansou de desenhar.