No livro Espelhos, Eduardo Galeano analisa e comenta de forma sensível e poética sobre diversos assuntos, de futebol aos problemas sociais da América Latina. No Dia do Trabalhador, destacamos este texto para compartilhar com vocês:
Proibido ser operário
Carlitos levanta um pano vermelho caído na rua. Pergunta-se o que será aquilo, e de quem será, quando de repente se vê encabeçando, sem saber como, uma manifestação operária que entra em choque com a polícia.
Tempos modernos é o último filme desse personagem. E Chaplin, seu pai, não apenas está dizendo adeus à sua querida criatura. Também se despede, para sempre, do cinema mudo.
O filme não merece uma única indicação ao Oscar. Hollywood não gosta nem um pouco da desagradável atualidade do tema. É a epopéia de um homenzinho apanhado pelas engrenagens da era industrial, nos anos seguintes à crise de 1929.
Uma tragédia que faz rir, implacável e arrebatador retrato dos tempos que correm: as máquinas comem gente e roubam empregos, a mão humana não se distingue das outras ferramentas, e os operários, que imitam as máquinas, não adoecem: enferrujam.
No começo do século XIX, lorde Byron já havia comprovado:
– Agora é mais fácil fabricar pessoas que fabricam máquinas.