Por Paula Taitelbaum*
Ele às vezes dá uma cambaleada, fica meio besta, mas quando parece que vai cair, agarra a gente pelo ombro, levanta a cabeça e segue em frente. Diário de um jornalista bêbado, o filme baseado no livro (quase) homônimo de Hunter Thompson, ganhou as piores críticas na imprensa daqui e de acolá. Injustiça com o coitado… Pensemos que é preciso ter paciência com os bebuns, pois sempre há algo de engraçado, terno e verdadeiro neles. E o filme estrelado por Johnny Depp tem vários momentos que honram a memória de Hunter Thompson – para quem o diretor Bruce Robinson dedicou sua obra. A trama que conta a história do decadente jornalista Paul Kemp, que chega a Porto Rico para ocupar uma vaga em um jornal de quinta categoria, começa bem, com uma cena aérea ao som de “Volare”. A partir daí, parece que tudo vai decolar, pois há bons atores em personagens que beiram o caricato: o mau-humorado editor de peruca, o gordo fotógrafo e seu galo de briga, o sarado playboy vilão… Até que entram em cena personagens que mereciam uma direção melhor como o “perrapado” jornalista Moberg, uma espécie de lixo ambulante viciado em etanol ou ainda a semi-gostosa Chenault que, na minha opinião, fica mais atraente quando vista pela luneta do que em super close. Mas, ok, como já disse, não chega a ser um desastre aéreo.
Há pontos altos como as cenas trash/cômicas de fugas desenfreadas no meio da noite, madames satãs enfeitiçando aves, viagens de substâncias acidamente alucinógenas, além de citações do tipo “Eles sabem o preço de tudo… e o valor de nada” (em um momento em que Paul Kemp cita Oscar Wilde para definir os especuladores imobiliários do Caribe). E, com boa vontade – talvez mais do que você possa ter –, dá até pra engolir os momentos românticos e suas melodias melosas. Desde que, claro, você dê um desconto ao roteirista e não se prenda ao livro original, pois nele Hunter Thompson mergulhou a relação de Kemp e Chenault em bastante rum, o que a deixou com um sabor mais acre-erótico e menos adocicado-romântico.
Minha opinião é que vale a pena ver o filme. Achei um bom programa para uma sexta à noite. Eu só não tive coragem de encarar uma dose de rum na sequência. Se eu estivesse em Porto Rico, quem sabe…
*Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.
Vou tentar dar mais uma (terceira? quarta?) chance ao filme e rever. Realmente, nem se pode pensar no livro. Antes do lançamento, lembro de ficar horrorizado com o trailer, sempre lembrando do livro. Praticamente impossível uma adaptação agradar a quem gostou demais de um livro, seja pelo texto, pelo argumento e história, ou tudo.
Sei que gostei bastante (foi meu primeiro Hunter S. Thompson; me chamou a atenção porque tive dificuldade em conseguir um exemplar e quis aproveitar pra ler). Um texto simples, mas cativante, e a história é bem equilibrada entre diversão e tensão. Quase sufoquei em preocupação em raiva com o [SPOILER!] “desaparecimento e reaparecimento” de C… depois de uma festa um tanto bizarra.
Achei ótimo ter sido lançado em pocket.