Morreu nesta terça-feira, 5 de junho, aos 91 anos em Los Angeles, o escritor americano Ray Bradbury. Bradbury, que também era arquiteto e poeta, começou sua carreira literária publicando a fanzine “Futuria Fantasia” aos 18 anos. Em 1953, lançou sua obra mais famosa, “Fahrenheit 451”, que retrata uma sociedade futurista em que livros são proibidos. Ao longo de sua carreira, escreveu mais de 20 livros. No final dos anos 90, a Coleção Quadrinhos L&PM publicou duas HQs assinadas por Bradbury: O pequeno assassino e O papa-defuntos. Em O papa-defuntos, havia, na primeira página, um texto do escritor revelando toda a sua paixão pelas histórias em quadrinhos. Em homenagem a ele, compartilhamos suas palavras com vocês:
Como posso negar a influência exercida sobre minha vida pelos desenhistas de histórias em quadrinhos e suas tiras publicadas nos jornais diários? É uma longa história de amor que começou na época em que eu tinha três anos de idade e nunca mais terminou, influenciando minha vida, minha imaginação e minha literatura.
Sem Buck Rogers, descoberto quando eu tinha nove anos, nunca teria desejado voar para o futuro com tanta intensidade. Sem as tiras coloridas de Tarzan que eram publicadas todos os domingos, nunca teria lido com tanto entusiasmo as obras de Edgar Rice Burroughs sobre a viagem de John Carter a Marte, que inspiraram, aos doze anos de idade, a minha primeira novela.
Sem os dinossauros que apareceram em 1932 nas tiras de Tarzan desenhadas por Hal Foster, assim como o filme King Kong no ano seguinte, eu não teria iniciado a apaixonante aventura que me ligou à pré-história e me levou a escrever The Beast From 20.000 Fathoms quando eu tinha trinta anos. E foi esta história que John Huston leu e que levou-o a telefonar-me para pedir que escrevesse o roteiro para Moby Dick.
Enfim, como vocês podem concluir, as histórias em quadrinhos me influenciaram profundamente e seus resultados foram incríveis. Seus efeitos se prolongam até hoje quando acabo de concluir o roteiro para Little Nemo a partir do trabalho de Winsor McKay. Sem a menor dúvida, esta oportunidade única de trabalhar sobre uma obra tão impressionante tornou-me um dos autores mais felizes do mundo.
Eu sempre quis ter uma página inteira de quadrinhos no suplemento dominical de um grande jornal diário. Mesmo assim, as minhas histórias vêm aparecendo nas revistas de quadrinhos há trinta anos, desenhadas por grandes desenhistas.
Uma de minha novelas, Frost and Fire foi recentemente adaptada pela D.C. Comics, sob responsabilidade do meu velho amigo Julius Schwartz publicada no final deste ano.
Para um velho colecionador de quadrinhos pode haver coisa melhor?
Ray Bradbury
Los Angeles
1º de maio de 1985