Há exatos 35 anos a L&PM editava o romance “Mês de cães danados” de Moacyr Scliar (1937-2011), então um jovem médico de 39 anos. Scliar já era conhecido nacionalmente por ser o escritor brasileiro que se destacava por abordar a chamada “temática judaica”. Sua literatura tratava do périplo dos judeus que fugiam das perseguições na Europa até a nova vida no Brasil. Scliar nasceu e cresceu no Bom Fim, o bairro judeu de Porto Alegre, filho de imigrantes russos. Até lançar “Mês de cães danados” ele era conhecido como autor de três clássicos da ficção judaico-brasileira; “A guerra no Bom Fim”, “O exército de um homem só” e “Os deuses de Raquel”.
Neste romance ele foge da sua temática para abordar o episódio da “Legalidade” no mês de agosto de 1961. Toda sua narrativa é construída em torno dos últimos dias de agosto – mês tido popularmente como “o mês dos cães danados” – daquele agitado ano de 1961, imediatamente à renúncia do então presidente Jânio Quadros. Os militares tentavam impedir que João Goulart, o vice-presidente, assumisse a presidência da República.
Através de uma narrativa nervosa – que se passa durante a crise da “legalidade” – este livro cativa o leitor até as suas últimas linhas. A trajetória de um homem, de tradicional família da fronteira do Rio Grande do Sul até a sarjeta de uma rua no centro de Porto Alegre. De rico filho de fazendeiro à mendigo e morador de rua. A história conta esta vida atribulada, os anos agitados, as aventuras, os amores e o heroísmo. “Mês de cães danados” é um livro especial dentro da extensa bibliografia de Scliar e uma das raras obras de ficção dentro da literatura brasileira a abordar ficcionalmente este que foi um mais críticos e importantes momentos da nossa história recente.