Nelson Rodrigues: Christian Grey “avant la lettre”

Por Ivan Pinheiro Machado

Segundo a revista Veja, 99,9% dos leitores de “Cinquenta tons de cinza” são mulheres. Portanto, estou entre os 0,1% dos homens que leram o livro. Porque eu li? Primeiro por dever profissional – meu trabalho é editar livros; segundo, por curiosidade. Desta esmagadora estatística que aponta quase 100% de leitura feminina, pode-se concluir que os homens não estão muito interessados em saber no que as mulheres estão pensando. E isto pode ser um problema… Nota-se que a mulherada está ávida por este livro, a ponto de estabelecer um recorde histórico no mercado editorial: “Cinquenta tons…” vendeu em seis semanas o que o mega bestseller “O Código da Vinci” vendeu em dois anos. Ou seja, nunca na história um livro vendeu tanto em tão pouco tempo. Não vou falar sobre os méritos literários, ou a falta deles. Longe de mim falar mal de uma obra que as mulheres – segundo todos os veículos de comunicação da terra – têm devorado ansiosamente em todos os quadrantes. Não sei o que a turma da burka acha disso, mas o fenômeno de vendas é planetário. Em poucas palavras, este mega bestseller consagra as frases célebres de Nelson Rodrigues escritas há mais de 50 anos: “Mulher gosta de apanhar” e “Dinheiro compra até amor verdadeiro”. Grosso modo (!), e vendo tudo com muito bom humor, esta é a síntese perfeita do livro “Cinquenta tons de cinza”. Christian Grey, o milionário pervertido e Anastassia, a virgem submissa, protagonizam a comprovação das teses rodriguianas, meio século depois. Eu acho que nós definitivamente não sabemos nada sobre o universo feminino. Somos seres anacrônicos que mandamos flores, dizemos gracinhas, fazemos galanteios… Christian Grey, o bilionário estúpido, tornou-se, com uma torrente de grosserias e muita palmada na bunda, o herói de (quase) todas as mulheres…

9 ideias sobre “Nelson Rodrigues: Christian Grey “avant la lettre”

  1. Danielle

    Eu estou entre os 99,9% que leram o livro, mas o fiz por motivos profissionais: sou jornalista e, como tal, acabo me rendendo aos best sellers. E eu ainda fiz a maratona de ler os três em dez dias antes do lançamento no Brasil.
    Achei uma obra terrível. Não entendi pq de tanta comoção pelo mundo, já que lá fora literatura erótica é tão comum qto suspense ou outras categorias. Já aqui, a coisa fica mais pro água com açúcar de Julia ou Sabrina, aqueles romances que chegavam nas caixas de sabão em pó qdo eu era pequena. Eu ri, então acho que valeu por isso.

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  2. Teresinha

    O post mostra como são diferentes os pensamentos de homens e mulheres.
    Eu particularmente concordo com a pouca qualidade da escrita do livro (um tanto piorada ainda pela tradução brasileira). Já vi muito post varrendo a má qualidade prá debaixo do tapete, em favor do sucesso de vendas.
    E como mulher (que li o livro na versão original e o primiero volume traduzido) acredito que o que chama a atenção e provoca a venda avassaladora é o contexto: o cara rico mas cheio de problemas e a mocinha ingênua e romântica, capaz de provocar um amor tal, que vence todas as barreiras (a bagagem dele, a dela, o sadismo dele, a ingenuidade dela). O dinheiro e o sexo só apimentam as coisas.

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  3. nina

    Parece que a escritora do cinquenta tons de cinza, que, aliás, não decorei o nome, encontrou a mina de ouro. Mulheres reais, entediadas nos seus relacionamentos amorosos, insípidos e corriqueiros, subitamente, se deparam com o personagem Christian Grey, másculo, forte e com a pitada certa de violência. Receita infalível… que provavelmente povoa as fantasias da mais recatada representante do sexo feminino. Nada como conhecer as mulheres, e entender, como ninguém, o que lhes vai na alma, ou pelo menos, no imaginário.
    Outro aspecto que me parece importante, e talvez um dos motivos da surpreendente aceitação feminina do livro, decorre do fato de que os homens, nos últimos tempos, diminuíram a presença de força, frente às mulheres contemporâneas, que assumem mais e mais funções. Talvez elas estejam cansadas das obrigações e papéis assumidos, e queiram, secretamente, uma quase volta ao passado, quando os homens eram fortes, decididos, másculos, e não aceitavam não como resposta…

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    1. Ivan Pinheiro Machado

      Nina,
      Muito interessante a tua teoria…interessante mesmo. Parabéns, acho que está muito bem pensado e vou pensar a respeito. Obrigado, abraço do Ivan

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      1. Nina

        Ivan, obrigado pela resposta a minha breve mensagem. Gosto muito dos teus textos. Se por acaso pensares alguma coisa sobre as minhas idéias, gostaria de saber. Abraço, Nina.

  4. Inês

    Não li o livro e acho que não vou ler, a menos que ganhe, pois não vou comprar, já que não é do meu interesse. Adorei o seu comentário, mas acho que esse “gostar de apanhar” faz parte de uma fantasia feminina (que não é a minha, com toda certeza), prefiro carinhos doces e sinceros. Acho que a mulherada que está lendo esse livro fica “viajando na maionese”. Penso que, na verdade, elas não gostam de apanhar. Gostam sim, de viajar na fantasia sexual dos outros.

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  5. nany

    Eu li o livro e me senti enjoada, mas não acho que mulher goste de apanhar e que dinheiro compra amor. Primeiro, Anastácia é uma jovem virgem que nunca tinha se apaixonado por ninguém e quando sente este sentimento o agarra com toda sua coragem. Ela deixa claro sempre que não quer nada material dele, ela quer simplesmente o amor dele e se submete a tudo para estar ao lado de Christian, ou seja, ela faz tudo por ele, por estar apaixonada. Os homens também fazem qualquer coisa quando estão apaixonados, viram servos de suas amadas e não diga que não. Se vc não tem prazer em servir a mulher que ama, acredite, vc não a ama. Ivan Pinheiro Machado, vc leu o livro, mas pelo visto entendeu do seu jeito machista. A Anastácia sempre disse que não queria apanhar, que se sentia ferida e humilhada por isso e se submetia a isto, pois tinha esperança de que poderia mudar o homem que ela ama, que ela quer. Pode chamar ela de boba, burra, mas dizer que mulheres gostam de apanhar aí acho que vc leu o livro rápido demais ou pulou algumas páginas, pois vc não entendeu o pq a personagem aceito este tipo de relação. Lembrando que foi seu primeiro amor e ela é muito ingênua. O amor dela por ele é tão grande que ela acha que pode mudá-lo. Pensa melhor na sua opinião.

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  6. Nanda

    Não li o livro pq tudo que li e ouvi sobre ele se resumia uma só palavra: sexo… mas, a percepção da Nina foi muito esclarecedora… ela enxergou nas entrelinhas o que eu percebia nas minhas amigas que leram a trilogia (e adoraram): elas querem um Christian Grey em suas vidas…
    “e talvez um dos motivos da surpreendente aceitação feminina do livro, decorre do fato de que os homens, nos últimos tempos, diminuíram a presença de força, frente às mulheres contemporâneas, que assumem mais e mais funções. Talvez elas estejam cansadas das obrigações e papéis assumidos, e queiram, secretamente, uma quase volta ao passado, quando os homens eram fortes, decididos, másculos, e não aceitavam não como resposta…”

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