“Quero morrer pintando”, costumava dizer para Joachim Gasquet. No dia 15 de outubro de 1906, uma tempestade desabou enquanto pintava sobre o motivo na estrada do Tholonet. Ele ficou várias horas debaixo da chuva, paralisado, tremendo de frio. Finalmente, guardou seu material e tentou voltar para casa. De súbito, sentiu-se mal e desmaiou no meio da estrada. O motorista do carro de uma lavadeira encontrou-o e levou-o para casa, na Rue Boulegon. A governanta, senhora Bremond, chamou o médico, que prescreveu repouso total ao paciente. Porém, Cézanne só fazia o que lhe dava na cabeça: ele não estava doente, não era nada. Na manhã seguinte, insistiu em ir até seu ateliê de Lauves para trabalhar. No final da manhã, sentiu-se mal novamente, arrastou-se até a Rue Boulegon e enfiou-se na cama. Ele nunca mais se levantará. O médico diagnosticou uma congestão pulmonar. Todavia Cézanne lutava. Ainda havia tanto por fazer. Ele delirava, gritava contra seus inimigos, chamava por seu filho. A vida o abandonara. No dia 20 de outubro, sua irmã Marie mandou uma carta para Paul, insistindo para que o sobrinho viesse para Aix “o mais rápido possível”. Ela também sugeria, em termos inequívocos, que Hortense ficasse em Paris mais um mês, porque o marido transferira seu ateliê para o quarto de vestir da esposa. Uma mesquinharia incrível, justo no instante em que Cézanne agonizava. No dia 22, a senhora Bremond mandou um telegrama para Paul Júnior: “Venham imediatamente os dois pai muito mal”. Hortense recebeu o telegrama, mas não disse nada para o filho: ela tinha uma hora marcada no costureiro para provar algumas roupas, e a isso não se falta. No seu quarto da Rue Boulegon, Paul Cézanne mantinha os olhos obstinadamente fixos na porta. Ele esperava a chegada do filho. Cézanne morreu no dia 23 de outubro sem revê-lo. Um dia, quando lhe pediram para se identificar com um pensamento, ele escreveu esses dois versos de Vigny:
Senhor, me fizestes poderoso e solitário,
Permita que eu adormeça de sono da terra.(Trecho de Cézanne, de Bernard Fauconnier, Série Biografias L&PM)
“Quero morrer pintando” (Paul Cézanne)
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