Por Nanni Rios*
Não sei bem explicar o porquê, mas a música “Valsinha” de Chico Buarque sempre me remete ao livro Noites brancas, de Dostoiévski. As duas histórias não têm muito em comum além do casal apaixonado que vai para a rua viver seu sentimento, mas na falta de elementos visuais em ambos (uma música e um livro, respectivamente), criei meus próprios cenários imaginários para as duas histórias e posso garantir que os dois se parecem. E essa relação não deixou de ser um dos principais motivos que me inspirou a escrever sobre Noites brancas aqui no blog, um livro que merece ser relembrado sempre.
Na história de Dostoiévski, a jovem Nástienhka se ilude com a promessa de um homem que partiu um ano antes prometendo voltar para casar-se com ela: ao chegar no local e dia combinados para o reecontro, nada do rapaz aparecer. É neste momento de fragilidade que a vida dela se cruza com a de um jovem (o protagonista da história), que estava no lugar certo na hora certa. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos e se apaixonam.
Na música do Chico, a história parece ser rodada ao contrário: um casal que vivia uma relação já desgastada se reapaixona e resolve contar isso para o mundo – como fazem os casais apaixonados, afinal:
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
Em Noites brancas, como não podia deixar de ser, algo vem atrapalhar o desenrolar romântico daquele fugaz encontro. Se o final é triste ou feliz? Recomendo ler o livro e tirar suas próprias conclusões – e isso não é uma isca barata, pois o julgamento realmente cabe a quem lê.
A L&PM publica Noites brancas na série Pocket Plus da Coleção L&PM Pocket. E para ouvir a “Valsinha”, clique aqui.
* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.
Um dos livros mais belos e sensíveis que já li!
Muito interessante a comparação com a música do Chico Buarque!