Jango vai morrer.
Todos os dias, ele espera. Contempla um ponto no horizonte, que pode ser o Brasil, e espera pacientemente. Espera algo que o fará reviver, ressuscitar, explodir. Talvez isso se reflita, sem que ninguém note, na sua maneira de contemplar as nuvens, como se no seu olhar uma sombra espessa tomasse o lugar de imagens movediças, ou na gota de suor que se imobiliza na sua testa ampla quando sai do sol e encosta a mão na casca rugosa de uma árvore de sombra generosa. Quem pode observar aquilo que não se dá a ver antes de não poder mais ser visto? Ou haverá coisas que só podem ser vistas depois que já se extinguiram, deixando rastros esparsos no ar pesado?
Assim começa Jango – A vida e a morte no exílio, o livro de Juremir Machado da Silva que acaba de chegar. São 376 páginas que contam – em ritmo de novela policial – como foram construídos, com ajuda da mídia, o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre as suspeitas de assassinato do presidente deposto em 1964. Juremir tinha a ideia de narrar os últimos anos do ex-presidente no exílio, mas ao iniciar suas pesquisas, logo descobriu que mais importante do que a vida, era a morte de Jango.