Por Fernanda Scherer*
Na minha visita a Berlim no início de julho, fiz uma clássica caminhada guiada pela cidade, daquelas que a gente absorve 1.000 anos de história em uma tarde. Depois de passar pelo Portão de Brandenburg e pelo “Memorial aos judeus mortos”, eu olhava distraída para Humboldt-Universität zu Berlin (Universidade Humboldt de Berlin), pensando que ali estudaram grandes figuras como Einstein, Schopenhauer e Marx. Quase não percebi que estava no centro da Bebelplatz, a antiga Opernplatz (Praça da Ópera). Foi quando a guia chamou a nossa atenção para uma placa no chão da praça.
Imagine 20 mil livros, entre eles grandes obras de Thomas Mann, Walter Benjamin, Bertold Brecht, Alfred Kerr, Sigmund Freud, Albert Einstein, Karl Marx e outros escritores importantes, todos alimentando uma grande fogueira em praça pública com 70 mil pessoas assistindo orgulhosas. É de arrepiar, não é mesmo?
Foi o que aconteceu em 1933, logo após a chegada de Adolf Hitler ao poder. Uma campanha, promovida principalmente por estudantes, recolheu de livrarias e bibliotecas particulares e públicas os livros que “mereciam ser queimados”. Todos os autores “inconvenientes” ao regime nazista estavam nesta “lista negra”. A queima foi justificada pelo poeta nazista Hanns Johst como a “necessidade de purificação radical da literatura alemã de elementos estranhos que possam alienar a cultura”. Uma das queimas de livros foi feita no dia 10 de maio de 1933, bem ali onde eu estava, na Opernplatz.
Passados mais de 80 anos, Berlim ainda relembra este episódio com um memorial de estantes vazias e uma placa no chão. E continua sendo de arrepiar.
*Fernanda Scherer é gerente de marketing da L&PM e esteve em Berlim, de férias, no início do mês.