Jornal Zero Hora – 22/08/2013 – Por Carlos Rollsing – São Borja
Escalado para investigar a morte de um ícone da história política do Brasil, um time de cinco peritos analisou o jazigo do ex-presidente João Goulart, em São Borja. Para facilitar a retirada dos ossos e o traslado para Brasília – o que deverá ocorrer até o final do ano –, foram feitas medições e fotos de vários ângulos. A partir das imagens, um programa de computador construirá uma maquete em 3D da sepultura, elemento que contribuirá no planejamento da remoção.
Ortiz explicou que os restos mortais de Jango estão inseridos em uma gaveta de tijolo maciço, do lado direito do jazigo, sendo a segunda de cima para baixo. Sob o mesmo mármore negro, também repousam outros oito corpos, entre eles o do ex-governador Leonel Brizola. Amaury ficou satisfeito com o resultado do trabalho, concebido para desvendar se Jango realmente sofreu morte natural em dezembro de 1976, como constam nos registros oficiais, ou foi envenenado pelas ditaduras do Cone Sul no contexto da Operação Condor.
Uma reunião, em 17 de setembro, poderá apontar o dia da exumação. A PF adiantou que, na data, a sepultura será cercada por tapumes para impedir a exposição de imagens que possam consternar a família.
Durante a perícia, alguns são-borjenses reclamavam. Pediam que deixassem o ex-presidente em paz. Outros simplesmente observavam. Artur Dorneles, um senhor de mãos engraxadas, se aproximou da grade do cemitério e, por cerca de 10 minutos, recordou o passado.
Quando Jango estava exilado na Argentina, onde morreu, Dorneles era encarregado de levar-lhe dinheiro e documentos. Ele sustentou uma tese que já gerou um livro: Jango não teria sido morto pelas ditaduras, mas por empregados que o traíram por interesse no seu dinheiro. O homem, depois de falar e se emocionar por três vezes, saiu andando e foi embora. A vida e a morte do ex-líder trabalhista mexem com as emoções da cidade.
O livro Jango, a vida e a morte no exílio, de Juremir Machado da Silva, reconstitui os últimos anos do ex-presidente João Goulart e trata de como foram construídos o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre o possível assassinato do presidente deposto em 1964.
Agende-se: Palestra sobre Jango com Juremir Machado da Silva e Christopher Goulart (neto de Jango) na Feira do Livro de Porto Alegre em 14 de novembro às 17h.