Se você colocar as palavras “incêndio” e “Noruega” no Google, vai ver a enorme quantidade de notícias sobre incêndios no país. São dezenas de cidades e vilarejos destruídos, casas de madeira, prédios modernos, edificações tombadas como patrimônio histórico: as chamas não escolhem local, não poupam nada e fortes ventos ajudam a alastrar a destruição.
Os incêndios ajudaram a formar geográfica e politicamente a Noruega. Ao longo dos anos, constantes incidentes destruíram peças arquitetônicas importantes da cidade, principalmente na época em que muitos edifícios eram inteiramente de madeira e, assim, facilmente consumidos pelo fogo. Foi após um incêndio histórico que durou 3 dias, em 1624, que o rei Cristian IV decidiu que a cidade velha não deveria ser recuperada novamente e ordenou a construção de uma rede de estradas em Akershagen perto da Fortaleza de Akershus. Ele exigiu que todos os cidadãos saíssem de suas antigas residências, lojas e locais de trabalho para se instalarem na nova cidade de Christiania, que mais tarde seria rebatizada de Oslo – hoje, capital da Noruega.
Por muito tempo, os incêndios não tinham causa conhecida: eram uma fatalidade, geralmente resultado da combinação de forças implacáveis da natureza. Mas o impacto dessas fatalidades sobre as pessoas começou a adquirir, com o passar do tempo, certos ares de mistério…
Em 1978, diversos incêndios começaram a atingir o pequeno vilarejo de Finsland, no sul da Noruega. Logo a polícia constata que um incendiário está a solta, e o medo se instaura entre os moradores da região. Nesse turbulento cenário nasce o menino Gaute Heivoll, que anos mais tarde funde este enredo policial a uma reflexão sobre o ofício da escrita em meio às chamas do romance Antes que eu queime, uma das obras mais instigantes da literatura escandinava contemporânea, que acaba de chegar ao Brasil pela L&PM em tradução direta do original, feita por Guilherme da Silva Braga.