No dia 23 de julho [de 1932], pela manhã, muitos telegramas de felicitações ainda estavam sobre a escrivaninha de seu quarto, a maioria anda não aberta. Alberto saíra cedo para dar um passeio pela praia, sem desconfiar do triste espetáculo que o aguardava. Um pequeno avião vermelho chamou-lhe a atenção, como uma pipa ou pandorga desgarrada no azul. Mas aquele pequeno filho do 14-Bis e da Demoiselle não estava ali para encantar os olhos de ninguém. Embicado em direção ao porto de Santos, começou a bombardeá-lo. E cada uma das explosões que ouvia foi causando, certamente, mais danos no cérebro de Alberto, fragilizado pela doença.
Hoje podemos avaliar a dor que Santos Dumont sentiu ao ver, e não só imaginar, um avião dedicado à tarefa de destruir prédios e navios, de matar pessoas inocentes, elevando-se ao céu e voltando a atacar como se tivesse sido inventado apenas para isso.
Mais tarde, algumas pessoas depuseram à polícia dizendo que viram, durante o bombardeio aéreo, um senhor bem vestido, muito calvo, pequeno e magro, olhando para o sul com os olhos esbugalhados, as mãos abertas sobre os ouvidos. Realidade ou imaginação? A verdade é que Santos Dumont, naquele mesmo dia, enforcou-se em seu quarto de hotel.
O suicídio do “pai da aviação” foi abafado pelas autoridades, a pedido, inicialmente, do sobrinho Jorge, que encontrou o corpo. Mas a morte do homem mais famoso do Brasil não podia ser escondida. Dois dias depois, sem rancores, Getúlio Vargas decretou luto nacional por três dias (…)
Trecho de Santos Dumont, de Alcy Cheuiche, Série Encyclopaedia L&PM.