Em 20 de novembro de 1895, seis meses depois de ter sido condenado por atentado ao pudor e homossexualismo – e de ter passado pelos presídios de Pentonville e Wandsworth -, Oscar Wilde foi transferido para a prisão de Reading, onde recebeu o número de matrícula C.3.3. Foi nessa prisão que, em 7 de julho de 1896, o autor de O retrato de Dorian Gray testemunhou o enforcamento do soldado Charles Thomas Woolridge pelo assassinato de sua esposa, o que o inspirou a escrever “A balada da prisão Reading”. No ano seguinte, iniciaria a obra De profundis, seus escritos de cárcere.
Mais de um século depois, o professor Peter Stoneley, da Universidade de Reading, remexeu no baú das memórias desta prisão e fez algumas descobertas sobre a vida em Reading no tempo em que lá viveu seu mais célebre detento. Foram achadas fotos, anotações e registros que estão prestes a virar uma exposição.
Entre as descobertas estão imagens de Henry Bushnell, preso que, presume-se, teve um affair com Wilde. O Prof. Stoneley disse que o escritor provavelmente se sentiu “atraído” por ele, mas não há detalhes da relação entre os dois.
A maioria dos prisioneiros de Reading não foi fotografado mais de uma vez, mas como Bushnell era reincidente, há sete “mugshots” (fotos de fichamento) dele. Wilde mencionou em uma carta um “rapazinho de olhos escuros” e a conclusão dos pesquisadores é a de que só pode ser Bushnell, um operário e ladrão tão prolífico, ou inepto, que foi preso 21 vezes entre 1892 e 1911 e cuja incapacidade de ficar fora da prisão deixou um legado fascinante. Os sete “mugshots” de Bushnell são as únicas fotografias conhecidas de algum dos homens da classe trabalhadora jovens por quem Wilde se interessou em sua vida.
O material encontrado permitiu ainda alguns insights:
· Classe: Oscar Wilde certamente era o único prisioneiro de classe média e formação universitária a estar preso em Reading naquele período. A grande maioria dos seus companheiros eram trabalhadores.
· Crime: Os crimes mais frequentes eram pequenos furtos. Objetos típicos roubados incluem coelhos, camisas, tabaco e botas. O segundo crime mais frequente era embriaguez e desordem.
· Homossexualismo: Até onde os registros mostram, não havia outros prisioneiros em Reading, ao mesmo tempo em que Wilde estava lá, condenados por atos homossexuais. No entanto, nos anos imediatamente anteriores à sua prisão, em 1893, um marinheiro de 27 anos e um trabalhador de 32 anos foram presos em Reading por “indecência com um macho” e, em 1894, um trabalhador de 19 anos foi preso por sodomia.
· Reabilitação: Apesar de suas condições adversas, a prisão Reading, como a maioria das prisões vitorianas, efetivamente tinha uma “porta giratória” para pequenos infratores reincidentes.
· Crianças: Wilde escreveu sobre o fato de ouvir os presos crianças chorando. Nos dois anos imediatamente anteriores à sua chegada, 22 crianças foram presas em Reading, incluindo uma de sete anos de idade, condenada a um mês de prisão por atear fogo em um celeiro, uma de 11 anos que roubou um pincel e uma de 10 anos que matou um pato.
· Saúde: A saúde debilitada de Wilde é narrada a partir de um inquérito 1896, que concluiu que “a vida na prisão deve, claro, ser mais cansativa e desgastante para um prisioneiro de sua educação”.
· Wooldridge: Registros de detalhes da execução de Trooper Charles Wooldridge, o soldado cuja morte constitui o tema de “A balada da prisão Reading” revelam que, antes da execução da sentença, o médico da prisão observou que Wooldridge tinha um pescoço “bastante longo”.
A exposição “The Oscar Wilde and Reading Gaol Exhibition”, organizada pelo Departamento de Literatura Inglesa da Universidade de Reading, acontece na Berkshire Record Office, na cidade de Reading. Ela abre oficialmente na quarta-feira, 22 de outubro, e permanece até 6 de fevereiro.