Em 2010, uma cabeça feminina em pedra calcária esculpida por Amedeo Modigliani foi leiloada pela Christie’s por R$ 95 milhões. Na terça-feira, 4 de novembro, outro leilão – dessa vez realizado pela Sotheby’s – fez bater o martelo e um novo recorde para uma escultura de Modigliani. A cabeça conhecida como “Tete” foi arrematada por U$ 70,7 milhões (mais de R$ 181 milhões).
Ela foi feita entre 1911 e 1912, quando o artista andava amargurado de tanta pobreza, como mostra abaixo um trecho da biografia Modigliani, de Christian Parisot, publicada pela Coleção L&PM Pocket:
Durante o inverno de 1911-1912, Amedeo a cada fica mais amargo, mais insolente frente à miséria, mais agressivo frente às injustiças, à mesquinharia dos falsos amigos e dos marchands improvisados, mais sarcástico consigo mesmo. Prova disso é o episódio relatado por Maurice Vlaminck, em que transparece o auto-escárnio feroz, autodestrutivo de Amedeo que, depois de flanar por horas sob a chuva, numa Paris embaciada e escura, decide finalmente ir a um marchand disposto a comprar-lhe alguns desenhos. O preço que Amedeo pede é modesto: 35 francos, o que a prior parece convir perfeitamente ao marchand, que de repente muda de ideia e propõe bem menos. A negociação se eterniza, longa e penosa. O homem é desonesto, regateia exageradamente e continua baixando seu preço. Eles chegam a dez francos, depois a cinco. Então, pálido e trêmulo, agarrando um corta-papéis que está sobre o balcão da loja, Amedeo perfura o maço de desenhos, passa neles um pedaço de barbante, depois, sem uma palavra, abre bruscamente a porta do lavabo sob o olhar estupefato do marchand, suspende o embrulho de desenhos a um prego e abandona o local batendo a porta com uma maestria digna da commedia dell’arte.