Ao vencer o Prêmio Nobel de Literatura em 1964 Jean-Paul Sartre recusou o prêmio. Até aí nenhuma novidade. O que se descobriu agora é que essa saia justa poderia ter sido evitada caso uma carta enviado por Sartre à Academia Sueca, responsável pelo prêmio, não tivesse demorado para chegar. Em uma mensagem escrita em outubro daquele ano, Sartre pedia que não fosse cotado para o prêmio, pois caso vencesse não aceitaria.
Só que, quando a carta foi entregue em Estocolmo, Sartre já estava entre os indicados. Semanas depois, o filósofo francês foi anunciado vencedor e, como tinha avisado, recusou o prêmio. A recusa, aliás, entrou para a história como o caso mais famoso e surpreendente de alguém que tinha dito “não” à Academia Sueca.
Em um texto publicado pouco depois do episódio no jornal “Le Monde”, Sartre lamentou o fato de sua decisão ter se tornado um escândalo. “Um prêmio foi oferecido e eu recusei”, escreveu ele. “Não sabia que essa decisão era tomada sem o conhecimento do vencedor, e acreditava ainda estar em tempo de evitar o ocorrido.”
A existência da carta em que Sartre avisava que não aceitaria o prêmio só veio à tona no final de 2014, em uma reportagem do diário sueco “Svenska Dagbladet”. Isso porque a Academia Sueca mantém sigilo de 50 anos sobre os bastidores de todas as decisões tomadas.
Na época da recusa, Sartre já havia publicado os três primeiros volumes de O idiota da família, a biografia de Gustave Flaubert que é publicada pela L&PM.
DECISÃO muito corajosa, e, com todo o respeito, difícil de se compreender, porque, seja escritor,filósofo, professor, acadêmico, tem nos seus trabalhos a fonte de expansão e apreensão do pensamento. O Prêmio da Academia Sueca significa o apogeu daquele que muito fez e contribuiu para este reconhecimento. O valor em dinheiro que acompanha a premiação é apenas um incentivo às novas criações e o norte para muitos outros. Vamos respeitar a decisão de cunho estritamente pessoal, posto que subjetiva. Seguir este exemplo já é outra coisa.
Não é tão simples assim. Para Sartre a literatura era também um ato político repleto de ideologias. Aceitar o prêmio, para ele, era aceitar o status quo dominante neste campo social, portanto o rejeitou.