Saint-Exupéry na Paris Ocupada

A L&PM prepara para este ano o lançamento da trilogia “Paris”, formada pelos livros Paris Boêmia (1900-1930), Paris Libertária (1931-1939) e Paris Ocupada (1940-1044). Escritos por Dan Franck, eles criam um verdadeiro monumento histórico e literário e dão a dimensão exata do que a cidade de Paris representa para o mundo. O primeiro volume a ser lançado foi Paris Ocupada, pois este ano marca os 70 anos do final da Segunda Guerra Mundial. Neste livro, há um capítulo chamado “O Pequeno Príncipe” que narra a participação de Antoine de Saint-Exupéry na guerra. O texto conta como nasceu a ideia de publicar o seu mais famoso livro. Leia alguns trechos deste capítulo:

O Pequeno Príncipe

Em 31 de julho [de 1944], em Drancy, o último comboio de deportados é embarcado para Auschwitz. No mesmo dia, em uma base aérea perto de Bastia, um avião se prepara para decolar. É pilotado por um veterano da Aéropostale, um ás da aviação: Antoine de Saint-Exupéry. O escritor vestiu outra vez o uniforme especial que vai protegê-lo do frio nas alturas. Certificou-se de que os mapas, os livros de anotações, as provisões, os lápis, as moedas estrangeiras (em caso de queda fora das fronteiras) e o revólver estavam no devido lugar, na jaqueta multibolsos sobre a qual vestiu um salva-vidas inflável (em caso de naufrágio). O mecânico ajustou sob o queixo do piloto o microfone que vai conectá-lo à base. Fixou em sua perna um cilindro de oxigênio para emergências. Assim paramentado, Antoine de Saint-Exupéry subiu na carlinga do Lockheed P-38 Lightning norte-americano. Verificou que as câmeras fotográficas colocadas nos paióis estavam funcionando bem. Então fez um sinal para seu mecânico, e os motores roncaram.

(…)

Em certo dia do verão de 1942, Saint-Exupéry almoçava com seu editor norte-americano no café Arnold, local de encontro dos franceses exilados. Na toalha de mesa do restaurante, desenhava mecanicamente um homenzinho com olhos redondos e cabelos desgrenhados. O editor observava o contorno aparecer. Foi quando lhe ocorreu uma ideia:

– Por que não faz um livro com ele? Um livro para crianças?

O homenzinho nascera da pena de Saint-Ex um ano antes. Padecendo de sequelas de inúmeros acidentes, o escritor-aviador havia sido hospitalizado em uma clínica em Los Angeles. O cineasta René Clair o visitara, presenteando-o com um estojo de aquarelas. Esse seria o passe de mágica que daria à luz O Pequeno Príncipe, texto e ilustrações de Antoine de Saint-Exupéry, oitenta milhões de exemplares vendidos no mundo todo.

No começo de 1943, o editor publicou simultaneamente uma versão em inglês e outra em francês. Gallimard publicou o livro em cores em 1946. Por não dispor das aquarelas originais, mandou reproduzir os desenhos do autor por um designer que os copiou a partir da edição norte-americana (apenas em 1999 foi publicada na França a obra abrilhantada com as verdadeiras ilustrações do autor).

Antes da publicação de O Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry provavelmente era o escritor francês mais célebre nos Estados Unidos: Terra dos homens (Wind, Sand and Stars) recebeu o National Book Award em 1939, e Piloto de guerra (Flight to Arras) fez enorme sucesso. Essa obra havia sido publicada na França, depois de passar pelo cutelo de Gerhard Heller.

(…)

Quando os aliados desembarcaram no norte da África, Saint-Exupéry decidiu se reaproximar da França. Não suportava mais as peregrinações psicológicas de seus compatriotas de Nova York nem sua própria inércia. A pena já não bastava: precisava lutar. Com o quê? Ainda não sabia. Seu objetivo: reencontrar os companheiros de 1940, aqueles do grupo de reconhecimento 2/33 que ele passou para cumprimentar em Túnis, antes de embarcar para os Estados Unidos.

Em 6 de abril, com quatro meses de atraso, O Pequeno Príncipe era publicado em Nova York, com ilustrações do autor. Saint-Exupéry deu um exemplar a Sylvia Hamilton, uma jovem jornalista com quem dividia algumas de suas noites. Depois buscou um alfaiate capaz de lhe fazer um uniforme sob medida. Por falta de tempo, comprou um nos bastidores do Metropolitan Opera: um uniforme azul-marinho, botões de cobre, dragonas douradas, quepe estranho. Prendeu ao conjunto sua Legião de Honra e sua Cruz de Guerra, cumprimentou os amigos, beijou Consuelo e, em 20 de abril, entrou a bordo de um navio de transporte de tropas, que chegava à Argélia três semanas depois.

Exupery em 1944

Exupéry em 1944

 A L&PM publica  O Pequeno Príncipe em dois formatos com nova tradução de Ivone C. Benedetti.

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