Na primavera de 1970, o poeta e cineasta Pier Paolo Pasolini esteve no Rio de Janeiro, com Maria Callas, para promover Medeia na América do Sul. Foi no Rio de Janeiro que o controverso Pasolini (no poema Hierarchia) descobrirá uma fraternidade irrealista com o subproletariado das favelas com um rapaz que ele chama de Joaquim:
Oh, Brasil, minha pátria infeliz,
destinada sem escolha à felicidade,
(o dinheiro e a carne são senhores de tudo, quando se é tão poético)
internamente cada um dos seus habitantes é meu concidadão,
existe um anjo que ignora tudo,
sempre debruçado sobre seu sexo,
movimentando-se, velho ou jovem,
para pegar nas armas e lutar
indiferente pelo fascínio ou pela liberdade.
Na Revista de cinema Bianco e Nero, março-abril de 1971, Pasolini recorda esse encontro com Joaquim em um poema, Res sunt nomina, que ele retomará em Empirismo eretico, quando acompanhou o rapaz até uma favela. Sua experiência se aproxima de modo muito intenso daquelas que conhecera nos anos 50, nas favelas dos subúrbios de Roma. Uma experiência humana, linguística e estética que será o ponto de partida para uma reflexão sobre o cinema e sua relação com a realidade.
Essas e muitas outras histórias estão no mais novo volume da Série Biografias L&PM: Pasolini, de René de Ceccatty.