Em 15 de outubro de 1815, Napoleão Bonaparte, derrotado em Waterloo, traído pelos franceses e pelos ingleses, chegou à ilha de Santa Helena para morrer. Esta pequena possessão inglesa fora escolhida para ser o castigo e a prisão do grande Imperador. A volta do primeiro exílio em Elba fora uma lição sobre a capacidade de retornar do General. Ele então foi condenado ao desterro em um lugar improvável, uma ilha infernalmente tórrida, perdida no meio do Oceano Atlântico. O carcereiro, Sir Hudson Lowe, foi o homem encarregado de policiar, vigiar e humilhar Napoleão Bonaparte até sua morte. Foram seis anos de martírio. Em 5 de maio de 1821, o Imperador (como era chamado pelos franceses) morreu naquele inferno úmido e quente, corroído pela amargura e pelo câncer (embora haja a versão não oficial de que foi envenenado com arsênico lentamente pelos ingleses). No mais recente volume da Série Biografias L&PM, Pascale Fautrier, através de um texto primoroso, expõe a lógica implacável do poder, restaurando a humanidade do ícone Napoleão Bonaparte.
Abaixo, alguns trechos da biografia:
A morte, suspensa o máximo de tempo possível e mantida na expectativa pelo romance, no fim acaba sempre vencendo como sabemos. A demissão de Las Cases pelo governador Hudson Lowe (personagem estranho, também tomado de paixão por seu prisioneiro, mas de uma paixão inteiramente negativa) aceleraria o progresso da doença. A bile negra, que os antigos teriam afirmado ser seu mal secreto, acabou de fato sendo vomitada por Napoleão. Saindo de uma prostração apenas para chamar o médico Antonmarchi de “grande velhaco” e “grande malandro”, ele deu seus três últimos suspiros (segundo Bertrand) no dia 5 de maio de 1821 às 17h49.
No dia 15 de outubro de 1840, uma expedição ordenada por Luís Filipe levou as cinzas do mártir de Santa Helena para as margens do Sena. No dia 15 de dezembro, o caixão foi colocado, ao som do Requiem de Mozart, numa capela do Palácio dos Inválidos: um público prestigioso composto por todos os pintores, músicos, poetas e romancistas do romantismo francês ficou siderado tanto pelo frio daquele dia quanto pelas “forças do espírito” – como diria em sua despedida televisionada, muito mais perto de nós, um presidente agonizante. Nada se tornara mais premente do que fazer justiça a Napoleão Bonaparte: “Monarquista no início, o romantismo oscilou para o bonapartismo poético que forneceu à lenda napoleônica o suporte literário sem o qual ela não teria obtido um sucesso tão estrondoso”, escreveu Jean Tulard.