Por José Antonio Pinheiro Machado
Antes que eu queime é um livro de qualidade impressionante. O jovem autor norueguês Gaute Heivoll ambienta num pacato vilarejo do interior do seu país a ação. E que ação! De repente, logo no início, a casa de um casal de modestos moradores é incendiada. A princípio, parece que se trata de uma infeliz fatalidade, resultante do calor do verão, falta de chuvas etc.. Haverá muitas explicações e conjeturas para aquele aparente acidente, mas pende, como se fosse a lâmina de uma guilhotina, um mudo ponto de interrogação sobre todas as cabeças: será que foi mesmo um acidente? Alguns dias se passam, a rotina pouco a pouco se restabelece, a vida continua e, quando todos estão quase esquecendo o desagradável episódio, ocorre outro incêndio! E depois mais outro… A situação se torna incontrolável, diante da absoluta ausência de qualquer indício ou pista que possa apontar um suspeito. O primeiro incêndio ocorre no dia do nascimento do narrador que, muitos anos depois, volta ao vilarejo em que nasceu para contar a história e desvendar o mistério. A escritura é de primeira classe e o resultado, um suspense incontornável, impossível largar antes do ponto final. Depois de ler a primeira página só é possível parar depois da última frase: “Permita-me escrever isso tudo antes que eu queime.” (L&PM Editores, 2013 – 253 páginas, Tradução de Guilherme da Silva Braga)