Um dia, fiquei sabendo que uma casa que conhecera na infância estava à venda: a Greenway House, próximo ao Dart, uma casa sobre a qual minha mãe sempre comentava — e eu concordava — ser a melhor casa das várias que existiam na região.
— Vamos dar uma olhada – falei. – Será um prazer revê-la. Não voltei mais ali desde os tempos de menina, em que ia visitá-la com minha mãe.
Fomos então a Greenway House e verificamos que a casa e os terrenos à volta continuavam maravilhosos. Era uma casa branca da época georgiana, contruída entre 1780 e 1790, com um bosque que descia suavemente até o rio Dart entre várias árvores e arbustos. A casa ideal. Como tínhamos autorização para visitá-la, perguntei o preço, embora não tivesse grande interesse em saber. Quando revelaram o preço, julguei ter ouvido mal:
— Dezesseis mil, foi o que disse?
— Seis mil.
— Seis mil?
Eu não podia acreditar. Na volta, comentei com Max:
— É incrivelmente barato. Tem 33 acres. Nem parece estar em mau estado de conservação. Só precisa de alguns reparos, nada mais.
— Por que não compra essa casa? – Perguntou Max.
(Trecho da Autobiografia de Agatha Christie, publicada pela L&PM Editores)
Agatha Christie realmente comprou a Greenway House. Ela fez algumas alterações, derrubando a parte que foi acrescentada posteriormente e deixando só a casa original construída em 1790. “Quando, por fim, as alterações foram feitas e a casa pintada toda de branco, mudamos para lá. Todavia, ainda exultantes com nossa nova casa, veio a Segunda Guerra Mundial.”, escreveu também ela em sua autobiografia.
A Greenway House e seus jardins permanecem abertos para visitação. Administrada pela National Trust — organização dedicada à preservação do patrimônio cultural de várias regiões da Europa —, o interior da casa ainda oferece aos visitantes a oportunidade de conhecerem a vida privada da Rainha do Crime. É possível ver de perto artefatos trazidos que Agatha e seu marido Max trouxeram de escavações arqueológicas, roupas usadas pela escritora e móveis e fotos originais.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Greenway House foi requisitada pela Guarda Costeira dos EUA por seis meses. A lembrança disso permanece por meio de uma friso que foi pintado na parede da biblioteca como mostra essa foto em que Agatha Christie aparece com a pintura ao fundo:
Mathew Prichard, neto de Agatha Christie, lembra-se com carinho de passar as tardes na sala de Greenway onde sua vó muitas vezes se mostrava ansiosa para testar o enredo de um novo livro na frente de um público ao vivo. Ele se lembra especialmente de Agatha recitando Um Punhado de Centeio e encorajando a família a adivinhar a identidade do assassino.
Greenway House também foi o cenário inspirador para alguns romances da escritora como A Extravagância do Morto.
Para descobrir mais sobre essa casa e agendar sua visita, basta acessar o site www.nationaltrust.org.uk/greenway