J. A. Pinheiro Machado*
100 Segredos de Liquidificador é o 11º livro de receitas de Anonymus Gourmet, com lançamento e tarde de autógrafos nesta quinta-feira, dia 4 de novembro, às 18h30min. “Nobre ferramenta de trabalho”, diz Anonymus Gourmet sobre o liquidificador que, garante, levaria para a ilha deserta. Audácia ou ironia? Na verdade, é uma metáfora que define a grandeza desse eletrodoméstico de custo acessível que é capaz de tantas proezas. E nesses 15 anos de atuação que começou na TVCOM (e se ampliou para RBS TV, Zero Hora, Rádio Gaúcha, Canal Rural, Rádio Farroupilha, site, blog, Twitter…) nenhum outro objeto culinário foi usado tantas vezes por Anonymus Gourmet quanto o liquidificador: da ambrosia de forno ao camarão à parmigiana, do estrogonofe de costela ao bolo casadinho, do castelinho de panquecas à pizza de cachorro quente, e uma infinidade de outras elaborações, em algum momento precisaram do liquidificador. A Ciça do Reloginho, que fez a edição final do material, confessa a dificuldade na escolha de “apenas 100” receitas com liquidificador. Na elaboração das receitas, esse “eletrodoméstico encantado”, para usar a expressão de Anonymus, desempenhou vários papéis, de astro insubstituível – pão de liquidificador, pastelão de liquidificador, pizza de liquidificador, ovos moles de liquidificador (!), molho bechamel – a coadjuvante de destaque – bolo de ameixa, lasanha enrolada, gratinado de camarão, costela na pressão.
Em todas as receitas, seja como astro ou como coadjuvante, o liquidificador entrou com uma única e gigantesca tarefa: simplificar a receita. A inspiração deste livro, veio de um escritor catalão: Josep Pla. Antes de morrer aos 84 anos de idade, Pla escreveu em catalão os 46 volumes de sua Obra Completa, que abrange viagens, aventuras, crônicas e, sobretudo, gastronomia, em textos redigidos numa prosa irresistível: “A cozinha nacional francesa jamais existiu. A cozinha francesa é a que servem nos vagões-restaurantes dos trens expressos. O que existe na França são as cozinhas regionais, que o povo elaborou em lugares concretos com produtos locais. Meu ideal culinário é a simplicidade, compatível em todo momento com um certo grau de “sustância” e consistência.”
Nessa linha, Anonymus Gourmet não se afasta da velha e boa cozinha doméstica, do dia-a-dia, a cozinha cotidiana dos brasileiros: “Eu trabalho no ramo da simplificação. Receitas antigas, revisitadas, repaginadas e muitas vezes com toques inesperados: isto é, velhas novidades.” O que mais que se pode dizer? Voltaremos!
* O texto acima foi originalmente publicado na coluna “Escritor Repórter” do Jornal Zero Hora em 4 de novembro de 2010 (pg. 47).