Por Paula Taitelbaum
Livros, assim como pessoas, têm sorte. Não falo da sorte de serem publicados, lidos, vendidos. Isso é como nascer, crescer e morrer – faz parte da vida. Mas sim a sorte de, lá no meio do caminho, quase por acaso, serem agraciados com a boa sina. Há livros que ganham na loteria do boca-a-boca, que são sorteados para cair nas mãos de pessoas influentes, que nascem virados pra lua, que… bingo! Falo isso porque, um belo dia, a sorte bateu na capa do meu livro de estreia, Eu versos Eu, publicado de forma independente em 1998. Era domingo de manhã e o telefone tocou: do outro lado da linha, havia uma amiga eufórica. Ouvi dela que, na noite anterior, enquanto assistia a um show de Ivan Lins, no Theatro São Pedro em Porto Alegre, reconheceu um poema meu na voz do cantor. No final da música, ele confirmou: “esse poema é de Paula Taitelbaum”. Quando ela terminou de contar, eu perguntei “Como assim? Eu nem gosto das músicas do Ivan Lins. Quer dizer… não gostava”. Ela não soube explicar, mas disse que haveria novo show naquele mesmo dia, sugeriu que eu fosse. Comprei ingresso. No espetáculo, Ivan Lins se propunha a cantar somente “textos” de escritoras. Um projeto que, pretendia ele na época, viraria um CD. No meio do show, eu nervosa (e se ele não cantasse meu poema? E se tudo não fosse um delírio da minha amiga?), roía as unhas. E eis que, lá pelas tantas, Ivan Lins ao piano, reconheci minhas próprias palavras: “Ontem à noite, nem todos os gatos eram pardos, nem todos os maridos eram fardos, ontem à noite…”. Era o meu singelo poema. Nada demais, achava até ele fraquinho perto dos outros, mas lá estava ele sendo cantado para um teatro lotado. Eu que nem editora tinha naquele tempo. Sem saber que eu estava na plateia, Ivan mais uma vez creditou o texto e citou meu nome. No final, obviamente, me dirigi ao camarim. Lá encontrei um cara querido e receptivo que me contou que viu Eu versos Eu por acaso em uma livraria de shopping e que, ao abrir aleatoriamente em uma página, descobriu aquele poema. Comprou o livro, improvisou com os versos e voilá. Agradeci e, antes de ir embora, resolvi me apresentar à Lya Luft que também estava lá e que, além de ter tido versos musicados, era amiga do bardo. Meio sem jeito, tirei um livro da bolsa, escrevi uma dedicatória, coloquei meu número de telefone em um canto da página e dei de presente a ela. Lya agradeceu sem muito entusiasmo. Mesmo assim, meu dia estava ganho. No final da tarde seguinte, ao chegar em casa do trabalho, havia um recado na minha secretária eletrônica: era ela. Sua voz dizia que estava impressionada com meus versos. Liguei de volta. Ficamos amigas. Tanto que é dela a orelha do meu segundo livro, Sem vergonha, publicado pela L&PM em 1999 . Muita coisa aconteceu depois disso. Mas nunca deixei de pensar Eu versos eu teve a maior sorte de Ivan Lins ter entrado naquela livraria.
Os poemas de Eu versos Eu estão em Ménage à trois, pocket da L&PM que reúne também os livros Sem vergonha e Mundo da lua.
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