Em junho de 1929, o poeta Frederico García Lorca chegou à Nova York a bordo do navio Olympic. Permaneceu nove meses nos EUA, tempo de gestar poemas e canções que seriam marcantes em sua obra. Em Frederico García Lorca – Antologia Poética há alguns dos poemas deste período, em que, entre um verso e outro, ele estudava na Columbia University.
A AURORA
A aurora de Nova York tem
quatro colunas de lodo
e um furacão de negras pombas
que chapinham as águas podres.A aurora de Nova York geme
pelas imensas escadas,
buscando entre as arestas
nardos de angústia desenhada.A aurora chega e ninguém a recebe na boca
porque ali não há manhã nem esperança possível.
Às vezes as moedas em enxames furiosos
tradeiam e devoram meninos abandonados.Os primeiros que saem compreendem
com seus ossos
que não haverá paraíso nem amores desfolhados;
sabem que vão ao lodaçal de números e leis,
aos brinquedos sem arte, a suores sem fruto.A luz é sepultada por correntes e ruídos
em impudico reto de ciência sem raízes.
Pelos bairros há gentes que vacilam insones
como recém-saídas de um naufrágio de sangue.
É dessa época também o poema “Pequeño vals vienès” que, em 1986, foi musicado por Leonard Cohen com o nome de “Take This Waltz”:
Lorca é muito bom!