Por Ivan Pinheiro Machado*
Provavelmente nunca mais haverá um fenômeno de massa, mídia e comportamento como foi a meteórica passagem dos Mamonas Assassinas pelo universo midiático brasileiro. Luan Santana, só para citar um super-astro do momento, com seu rostinho de classe média bem-comportado, não representa 1% do “estouro” que foram os Mamonas. Os jovens de todo o Brasil com 4, 5, 15, 18 anos cantavam cândida e animadamente: “neste raio de suruba/ já me passaram a mão na bunda/ e eu não comi ninguém…”
Isso mesmo! O rádio tocava insistentemente clássicos como Pelados em Santos (“minha Brasília amarela, tá de portas abertas”, quem não lembra?), Vira-Vira (a música da suruba cantada em sotaque lusitano, imitando o “Vira” do folclore português), Chopis Centis (“A felicidade é um crediário nas Casas Bahia”), Mundo animal (“Comer tatu é bom, pena que dá dor nas costas”…), Robocop gay (“Faça bem a barba,/ arranque seu bigode/ gaúcho também pode/ não tem que disfarçar”…), Bois don’t cry (“Soy um hombre conformado/ escuto a voz do coração/ sou um corno apaixonado/sei que já fui chifrado/ o mas o que vale é o tesão) e muitos outros. Ninguém explicava o fenômeno. Havia teses e mais teses, mas a verdade é que no final de sua curta vida, os shows dos Mamonas aconteciam em lugares imensos para 30, 40 e até 70 mil pessoas).
Tudo isto acabou em uma das maiores tragédias da história da música popular brasileira. Os cinco jovens que fascinaram e divertiram o Brasil durante menos de dois anos e bateram todos os recordes de venda de CDs de uma banda nacional morreram no dia 2 de março de 1996. O jatinho que os trazia de um show em Brasília espatifou-se contra a serra da Cantareira em São Paulo.
Cerca de um mês depois da tragédia que comoveu e parou o país, Paulo Lima, o “L” da L&PM, caminhava pela Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, quando seu celular tocou. Fugindo do barulho ensurdecedor dos ônibus e carros, Lima entrou numa farmácia para atender a ligação de um número desconhecido com prefixo de São Paulo. Era Rick Bonadio, o produtor dos Mamonas e representante das famílias dos rapazes depois do acidente. Ele havia pego o telefone do Lima em nosso escritório em São Paulo e convidava a L&PM para participar de uma concorrência para produzir e editar uma “biografia” da banda. Outros editores seriam ouvidos também. A concorrência levaria em conta a proposta em dinheiro e a qualidade do projeto apresentado.
Resumindo: fizemos uma oferta razoável e propusemos o Eduardo “Peninha” Bueno como autor. Fomos a São Paulo no estúdio do produtor dos Mamonas, levamos o Peninha a tiracolo e apresentamos o projeto. Rick ficou fascinado pelo discurso pop de Eduardo Bueno, o amigo de Bob Dylan, e depois de ouvir os outros “concorrentes” decidiu-se por fazer o contrato com a L&PM.
Peninha “mudou-se” para São Paulo e depois de 2 meses passados na sua maior parte nos subúrbios cinzentos de Guarulhos, o livro estava pronto. Fora um doloroso périplo entrevistando as famílias e amigos dos cinco jovens. O resultado foi um livro extraordinário, em que o texto límpido e emocionado de Eduardo Bueno conseguiu captar sem melodramas aquela impressionante e dramática história brasileira. Uma história de suburbanos que despontaram para a fama e a glória e fizeram cantar um país inteiro de norte a sul, pobres e ricos de todas as idades. Esta foi a grande mágica dos Mamonas Assassinas. Foi um sucesso quase instantâneo e avassalador. Uma história muito curta, mas que deixou no seu rastro recordes e mais recordes de público, vendas de discos e exposição na mídia.
O livro saiu 3 meses depois da tragédia. Um recorde no gênero que os ingleses batizaram de “instant books”. Blá, blá, blá – a biografia autorizada dos Mamonas Assassinas vendeu exatos 90 mil exemplares, uma grande venda, mas aquém do que esperávamos. Procuramos, na época, uma explicação para o fato do livro não ter reprisado o imenso sucesso dos discos. O livro era leve, informativo, extremamente bem escrito, ilustrado belissimamente com histórias em quadrinhos, fotos a cores e fora distribuído, além das livrarias, também nas bancas de jornais. Nunca obtivemos uma resposta convincente. Havia sido uma boa venda, mas, como tudo na meteórica passagem dos Mamonas sobre a terra tinha sido exageradamente grande, ficamos frustrados com os números finais. Foram muitas as teses procurando explicar o “fenômeno”. Mas, como se sabe, teses não mudam destinos. Principalmente de coisas que já aconteceram.
*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo terceiro post da Série “Era uma vez… uma editora“.
Esse livro não está esgotado? Porque senão eu concerteza ajudaria a aumentar o número de exemplares vendidos!
Oi, Patricia. Infelizmente, o livro está esgotado 🙁
po veio eu adoroos mamonas até hoje e olhaque eu tennho 13 anos e adoro as bostas que eles felam nes musicas deles não chegei a conhecer mas se eu tivesse a oportunidade não a perderia por nada desse mundo
po, sacanagem entao… o post foi só pra deixar na vontade. hehehe
tenho certeza que passados 16 anos dessa tragédia que deixou nossas vidas menos alegres, uma reedição deste livro com certeza dobrará sua venda total e trará de volta um pouco da alegria que perdemos naquele dia. “Mamonas Assassinas” nuncam morreram no inconciente daqueles que presenciaram sua história.
Concordo com a Patricia.
“O livro era leve, informativo, extremamente bem escrito, ilustrado belissimamente com histórias em quadrinhos, fotos a cores e fora distribuído, além das livrarias, também nas bancas de jornais.”
Esse trecho me deixou doido para ler o livro.
Daí eu fico sabendo que ele está esgotado…
É um tapa na cara. XD
Aliás, “exatos 90 mil exemplares”? Isso é um dado curioso.
Eu comprei este livro na época, e até fui na tarde de autógrafos, no Shopping Eldorado, em São Paulo, onde estavam os familiares dos integrantes da banda. Foi bem legal, mas inevitavelmente triste também.
Li o livro apenas uma vez, logo depois de ter comprado, mas lembro que tinha gostado bastante! Acho que vou caçá-lo no meio dos meus livros e relê-lo. =)
Aliás, conforme o comentário anterior sugeriu, uma reedição seria uma ótima ideia!
Esses dias achei meu exemplar na casa da minha mãe… Reli dando boas gargalhadas, algumas vezes chorando e relembrando aquele tempo tão bom… Eu tinha dez anos quando os Mamonas morreram e comprei o livro numa banca de jornal perto do colégio, se não me engano custava 9,90 na época e eu juntei dinheiro quase um mês para comprá-lo… Boas recordações…
O artigo se refere a muitas teses explicativas do fenômeno Mamonas Assassinas, o que me surpreendeu. Estou fazendo uma pesquisa sobre a banda e tendo dificuldade de encontrar material a respeito, afora o que foi publicado na gande mídia. Tinha a impressão, inclusive, que a banda foi ignorada pela crítica e não teve a análise que merecia, pela grandiosidade do que representou. Se possível gostaria de ser informado de como ter acesso a essas informações. Desde já, agradeço.
Caro Armando, o livro “Blá, blá, blá – Biografia autorizada” é realmente excelente, mas infelizmente ele está esgotado. Talvez você consiga encontrá-lo em sebos que vendem livros usados. Boa sorte! Abraço, Paula (Núcleo de Comunicação L&PM)
Tomo a liberdade de recomendar o site de resumos Shvoong, onde também foi publicada uma resenha sobre o livro:
http://pt.shvoong.com/books/biography/2300345-mamonas-assassinas-bl%C3%A1-bl%C3%A1-bl%C3%A1/